Ciência & Tecnologia

Investigação global faz alerta para que se salvem os rios

Fotografia gentilemente cedida por Maria João Feio

Estudo foi liderado por investigadora da FCTUC e revela fraca qualidade ecológica dos rios. Equipa evidencia os riscos de estarem a transformar os rios em lagos. Por Ana Rita Baptista

Um estudo sobre a qualidade ecológica dos rios em todo o mundo foi coordenado por Maria João Feio, do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e contou com a participação de 29 peritos oriundos de cinco continentes. Este trabalho, que começou a ser feito no ano passado, teve no início do mês de fevereiro os seus resultados divulgados.

A investigação teve por base vários artigos elaborados por especialistas de diversos países. O objetivo passou por tentar perceber qual o estado ecológico em que se encontram os rios, com foco nos países menos desenvolvidos, onde estas informações não são tão claras, referiu a coordenadora do projeto. “Em sítios como a América do Norte, Europa, Austrália e África do Sul sabe-se que é feita uma monitorização mais regular, mas é preciso perceber se depois são tomadas medidas de recuperação” assinalou Maria João Feio.

A poluição ambiental é uma das principais razões para a fraca qualidade ecológica dos rios apontada neste estudo, a par com o problema da construção de barragens. Estas “fazem com que os rios deixem de ter água corrente, essencial para a renovação e circulação de espécies e para manter a qualidade da água, o que faz com que os rios se transformem em lagos”. A investigadora revela que este é um problema presente em Portugal. Outra questão “flagrante” apontada para a perturbação do ecossistema dos rios é a introdução de espécies de vegetação exóticas nas margens dos rios que “degradam a flora nativa”, acrescenta.

Esta deterioração dos ecossistemas dos rios levanta outros problemas para além dos ambientais e ecológicos. Como declarou a coordenadora do estudo “o consumo e uso de águas contaminadas dos rios são um fator de doença em muitas partes do mundo menos desenvolvidas”, ou seja, estão em causa, também, questões de saúde. Maria João Feio refere ainda o surgimento de problemas económicos nas populações que mais dependem da pesca nos rios, que cada vez têm menos variedade e abundância de espécies.

Um dos objetivos deste trabalho é também a sensibilização da população quanto a esta problemática, bem como dos decisores políticos que “têm o poder de regulamentar e fazer cumprir algumas normas para proteger a biodiversidade, como já acontece, por exemplo, em Portugal” remata a investigadora da FCTUC. Para além disto, no estudo foram feitas várias medidas de recomendação para recuperar os ecossistemas, como a preservação das margens naturais e da vegetação junto dos rios. Também a eliminação de barragens foi uma proposta apontada, frisou Maria João Feio uma vez que “são construídas sob a ideia errada de que fornecem mais energia sustentável, mas na verdade destroem ecossistemas”. 

A coordenadora do estudo realçou ainda que Portugal “como regra geral nos países desenvolvidos, atingiu um nível de degradação muito elevado, que já ocorre há muito tempo e que levou a uma grande perda de biodiversidade”. Destacou ainda que “é preciso começar a implementar medidas rapidamente” e “é necessário financiamento por parte dos decisores políticos para ser feita a recuperação dos ecossistemas”.

Este estudo foi assim a primeira grande compilação de informação sobre este assunto, reunindo mais de 400 referencias. Maria João Feio afirma que no futuro pretendem “continuar a trabalhar e ir mais além neste projeto com este grupo de colaboradores de todo o mundo” e a recolher informação para perceber mais concretamente o estado ecológico dos rios.

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