Ciência & Tecnologia

Estudo da UC mostra aumento significativo de emoções negativas nos adolescentes

Fotografia cedida por Cristina Pinto

Estudo demonstra uma subida para 14 por cento dos jovens com sintomatologia depressiva. Projeto SMS visa fomentar competências de regulação emocional para prevenir depressão. Por Carina Costa e Inês Rua

O estudo da equipa da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC), liderada pela docente Ana Paula Matos, mostra o impacto negativo da COVID-19 na saúde mental dos jovens. Os resultados preliminares denotam o aumento de emoções negativas nos adolescentes, como tristeza, medo e raiva, e de sintomas de ansiedade e depressão. 

Esta investigação é parte integrante do projeto SMS (“Sucesso, Mente e Saúde”), financiado pelo Portugal Inovação Social e pelo Município da Figueira da Foz. Decorre em escolas com jovens do 3.º ciclo e pretende promover a saúde mental e prevenir a depressão. O estudo começou com o início do ano escolar, em outubro de 2020, e pretende acompanhar os alunos até ao ano seguinte para avaliar o desenvolvimento dos sintomas.

Em comparação com um estudo realizado pela mesma equipa, entre 2009 e 2014, durante a crise financeira, houve um aumento de seis por cento de sintomatologia depressiva elevada durante a pandemia de COVID-19. Os dados mais recentes mostram que as raparigas apresentam níveis superiores de emoções negativas.

Em outubro, a avaliação pautou-se por questionar 206 alunos do 9.º ano como se sentiam antes da pandemia e naquele momento. A docente da FPCEUC admite que os resultados da pré-pandemia “são uma avaliação em retrospectiva pelo que podem não ser lineares”. No entanto, em comparação com os dados relativos ao início do ano escolar, “já se assistiu à subida de algumas emoções negativas”, reitera.

De seguida, em dezembro, a equipa voltou a analisar 122 desses jovens quanto à segunda vaga da pandemia. A comparação dos dados obtidos nos dois momentos demonstra que “à medida que a pandemia vai evoluindo e impactando, aumenta a tendência de depressão e ansiedade”, esclarece a investigadora.

“Isto são resultados preliminares”, realça Ana Paula Matos. Por isso, os investigadores do projeto têm como objetivo alargar a amostra, de modo a obter mais dados sobre esta vulnerabilidade nos jovens. A equipa prevê um aumento de até 800 estudantes até ao final do ano lectivo, “o que vai permitir obter resultados mais concretos sobre factores de risco e de proteção”. 

O SMS é um projeto de intervenção à comunidade que pretende ajudar os jovens e as suas famílias a lidar com as emoções negativas que se fazem sentir nesta altura pandémica. A equipa desenvolve em paralelo um outro programa, o SMS Educadores, ligado aos encarregados de educação que são também submetidos a questionários e, de seguida, avaliados e acompanhados.

Os dois projetos visam dar aos alunos e familiares competências de regulação emocional para prevenir a depressão. “Atividades de lazer, ter tempos livres e uma boa percepção de si próprio são aspectos de proteção e diminuição de risco de sentimentos negativos”, sublinha a docente.  

A equipa espera ainda obter mais apoios no futuro, de modo a que esta iniciativa não tenha apenas a duração de um ano e possa acompanhar os jovens no secundário. A investigadora realça que “poderia ser muito interessante acompanhar o efeito da intervenção”.

Os programas contam com 10 sessões durante o ano lectivo, pelo que estão neste momento a ser recolhidos os dados referentes ao impacto das aulas online. “Há curiosidade para ver se o trabalho remoto pode ser uma variável que possa influenciar”, conclui Ana Paula Matos. 

To Top