Opinião

EDITORIAL: Hoje é dia de partir o Lápis

“O Presidente da República em Coimbra”. “Inaugurado em Coimbra pelo Presidente da República o edifício da Secção de Matemática”. “Pela primeira vez os estudos matemáticos passam a dispor na Universidade de Coimbra de edifício próprio”. Eram estes os títulos presentes nos jornais nacionais de 17 de abril de 1969 e do dia seguinte. Foi este o único tema sublinhado de importância a surgir daquele dia, daquele edifício. Mais nada foi escrito. Porque não cabem estudantes presos por pedirem a palavra numa história escrita a Lápis Azul. Não cabe a verdade. Uma história assim serve para ser contada apenas a quem a escreve.

Não sei que nome dar a uma história assim. Só sei que, quando impressa numa folha de jornal, apodrece-a instantaneamente. Hoje é um dia para recordarmos isso mesmo. É dia para jurar nunca mais esquecer uma vida onde não cabia a verdade de todos. Jurar partir esse Lápis maldito para escrever apenas com serviço público, porque só assim se conta a Democracia de história em história – na memória de que o Jornalismo já esteve acorrentado e com ele todos nós.

Este dia também nos lembra o quão necessário é ter um Jornalismo a caminhar livre. Mesmo que por vezes, talvez agora mais que nunca, caminhe descalço, com as feridas nos pés a abrandarem-lhe o ritmo. Esta crise que agora vivemos tem colocado demasiadas pedras, em tons de desinformação, num caminho já difícil de percorrer. Mas este dia lembra-nos da importância de nunca parar de andar, da necessidade de cada passo. Mesmo que sem apoios suficientes. Mesmo que outros caminhem nos sapatos da ganância e do clique rápido. Mesmo que estejamos apenas nas mãos de estudantes. O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa lembra-nos que nada disso é maior que a necessidade de contar histórias verdadeiras.

Por Pedro Emauz Silva

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