No dia em que o ex-internacional português anunciou o fim da carreira, A Cabra recorda o perfil publicado na edição impressa de novembro de 2018.
Ao longo de quase 20 anos, o avançado acumulou presenças, golos e estórias em alguns dos principais palcos do futebol internacional. Ficam os números: 595 jogos, 192 golos e 12 títulos conquistados. Pela Briosa, foram 37 partidas e 11 remates certeiros.
A aventura do internacional português arrancou no GD Buarcos. Após uma longa jornada no estrangeiro, Hugo Almeida está de regresso a Portugal, para representar a Académica. Por Saul Denofre e João M. Mareco
Aos 34 anos, o camisola nove procura mais glórias na sua vida futebolística. Com uma carreira reconhecida jogou ao lado de nomes como Miroslav Klose, Mesut Ozil, Luis Figo, Rui Costa e Cristiano Ronaldo. Participou em dois Campeonatos do Mundo e ganhou a Liga dos Campeões. Esta época o internacional português atua na Briosa e espera ajudar a equipa no regresso à Primeira Liga.
Orgulhoso buarqueiro
Foi no Ginásio Clube Figueirense que Hugo Almeida entrou em contacto pela primeira vez com o objeto esférico que mudou a sua vida. Contudo, na modalidade errada. O jovem, natural de Buarcos, Figueira da Foz, tinha os pré-requisitos desejáveis para ser jogador de basquetebol. Apesar de ter altura, inquietude e a alegria de miúdo, faltava-lhe vontade de jogar no court. “Não era aquilo que me fazia feliz”, confidencia.
Do basquetebol passou para o atletismo. No entanto, viria a encontrar a verdadeira felicidade atrás de uma bola, usando-a para abanar as redes. Após ouvir a sugestão paternal, Hugo Almeida reforçou, aos nove anos de idade, o Grupo Desportivo de Buarcos. Estava dado o pontapé inicial da carreira do 12º maior artilheiro da Seleção Portuguesa de Futebol.
A revelação de uma alma grande
Ainda adolescente, Hugo Almeida rumou ao norte para jogar no FC Porto. As saudades de casa eram compensadas pelo companheirismo de todos aqueles que, tal como o jovem de 15 anos, iniciavam o primeiro jogo do resto das suas vidas.
O atleta confessa que “para quem nunca tinha saído das saias da mãe, estar numa cidade era quase como um país novo”. No Porto, Hugo Almeida foi apelidado por Paulinho Santos, então treinador, como o “alma grande”, uma analogia ao seu metro e 92 e à sua amigável personalidade.
Mais tarde, aquando do empréstimo ao União de Leiria. foi orientado por Manuel Cajuda, que o chamou para ir jogar na Primeira Liga. “Não podia recusar”, frisa o jogador. A boa relação mantém-se passados 16 anos, espelhada no reconhecimento e gratidão. Foi com particular brilho nos olhos que Hugo Almeida referiu o nome de Manuel Cajuda. “Foi um dos treinadores mais marcantes na minha carreira”, revela.
Ao evocar a sua memória, o atual treinador do Académico de Viseu recorda um jogador mais desenvolvido a nível técnico do que se pensa. Manuel Cajuda destaca “a capacidade de escutar e de entender” de Hugo Almeida. “Estou grato por de se lembrar de mim”, admite.
Relembra, com um misto de sentimentos de missão cumprida e emoção, o reencontro dos dois na receção ao Viseu. “Quando fomos jogar a Coimbra”, revela Manuel Cajuda, “encontrei o Hugo antes do jogo, ele deu-me um abraço”. Emocionado, o técnico da formação viseense conta o que disse só avançado da Briosa: “Oh Hugo, és grande em tamanho e em caráter”.
Manuel Cajuda diz-se orgulhoso do percurso do jogador. “Hoje posso dizer que valeu a pena, como valeu a pena com o Tiago, o Quim ou com o Barroso, uma série de atletas que nos dão grandes medalhas como treinadores”, conclui.

Hugo Almeida voltou à Invicta e, na época 2005/2006, conquistou a titularidade. A passagem do jogador pela formação portista fica na história, em especial pelo golo marcado frente ao FC Barcelona na inauguração do Estádio do Dragão. De azul e branco apontou um dos melhores golos da sua carreira na Liga dos Campeões, diante do Inter de Milão.
Após cinco anos no futebol nacional, Hugo Almeida, ao comando de Co Adriaanse, foi jogar para a Alemanha. No Werder Bremen, o avançado encontrou Thomas Schaaf. Segundo o futebolista, este treinador para determinante para o jogador que é hoje. A Bundesliga, defende Hugo Almeida, “está taco a taco com a liga inglesa, pela sua competitividade, pelos atletas e equipas”.
No inverno de 2010, o avançado português rumou a leste e no Besiktas, da Turquia, encontrou adeptos fervorosos. “Quando gostam de um jogador vão com ele até à morte”, destaca. Desejoso de ver semelhante ambiente nos estádios portugueses, lembra que “no futebol alemão, até nas divisões regionais existem estádios cheios”.
De Cesena a Atenas – a epopeia
Quatro anos após estrear-se no futebol turco, Hugo Almeida viaja para Itália, onde participa em dez partidas pelo Cesena. Em janeiro de 2015, o atleta muda-se para o Krasnodar, da Rússia. Após o verão desse ano, o jogador português deparou-se com uma das piores situações da sua carreira.
“Quando assinei pelo Anzhi foi prometido que os jogadores iam viver em Moscovo. No entanto, seguimos para o Daguestão”, recorda. “Não sabia para o que ia; foi um choque”. Existiam muitas guerrilhas, tiroteios e atropelamentos. “Voltei outra vez aos meus 14 anos, quando vivia praticamente dentro de um estádio”, revela Hugo Almeida. A meio da época recebeu um convite do seu ex-treinador Thomas Schaaf. Sem hesitar, regressou à Alemanha, para jogar no Hannover.
Depois de uma temporada atribulada, a formação germânica foi relegada à segunda divisão. Uma nova oportunidade surgiu com o AEK Atenas como destino. “Um dos melhores países em que joguei foi a Grécia. Senti-me em casa, adorei jogar lá”, recorda.
Na meia-final da taça grega, Hugo Almeida foi, pela primeira vez, incumbido de, ao contrário do habitual, impedir golos. “O guarda-rede foi expulso. Naquele momento não poderia sair um defesa e, perante o poderio do Olympiacos e a nossa vantagem no marcador, era necessário manter a linha recuada”, explica.
No princípio da presente época, o ponta de lança voltou a calçar as luvas, desta vez pela Académica. Salienta que “foi uma opção do treinador, é importante olhar para as melhores opções, de modo a não sofrer danos na defesa”.
Com 12 anos de experiência no estrangeiro, Hugo Almeida regressou a Portugal para defender o preto e branco dos estudantes. Apesar do começo conturbado na Segunda Liga, o jogador acredita que a Académica ainda pode dar a volta e sonhar com a subida. “Se conseguimos ou não, só depende de nós, remata. A época é longa e Hugo Almeida lembra que “há muito ponto para disputar”. “No fundo, o futebol é uma caixinha de surpresas, nunca se sabe o que vai acontecer”, ilustra o jogador.
Hugo Almeida assume que a sensação de se sentar num balneário com “mitos” como Luís Figo, Rui Costa ou Fernando Couto é irrepetível. Salienta que, apesar de todos os títulos conquistados dentro das quatro linhas, o prémio mais importante da carreira são os filhos.
Entrevista publicada na edição nº292 de 20 de novembro de 2018
