Falta de apoio em áreas fulcrais impedem obtenção de maior lucro. Serviços de contabilidade da AAC foram alvo de crítica. Por Carolina Prodan e Carlos Torres
A Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra recebeu ontem, dia 4 de dezembro, no Teatro Paulo Quintela, a Assembleia Magna (AM) da Associação Académica de Coimbra (AAC) de caráter extraordinário. Esta foi convocada pela Direção-Geral da AAC (DG/AAC) com o fim de aprovar o Relatório Anual e Contas da edição da Queima das Fitas 2019 (QF’19).
Feita a segunda chamada, verificou-se que não se encontrava reunido o quórum deliberativo exigido para a aprovação do relatório em causa. O início da AM ficou marcado pela intervenção do representante dos estudantes de 3º ciclo no Conselho Geral da Universidade de Coimbra (UC), Luís Coimbra, e do dux veteranorum, Matias Correia. Este referiu o intuito de alterar o Código da Praxe da UC e de introduzir um conjunto de medidas que visam criar discussão acerca do tema.
Iniciada a leitura do Relatório Anual e Contas da anterior QF, o secretário-geral da Comissão Organizadora da QF’19 (COQF’19), Leandro Marques, começou por assinalar que “a [sua] tomada de posse foi já tardia, o que dificultou a ordem de trabalhos e o cumprimento de alguns ‘timings’ regulamentares”. Destacou ainda que “a festa podia ter corrido melhor em termos de patrocinadores, entidades bancárias e produção a nível artístico”. Acrescenta, a este propósito, que “a QF não tem parceiro na área bancária, o que representa um encargo de elevados custos, como por exemplo os ATM e os TPA para a venda de ingressos por cartão bancário”.
Ao recordar o momento em que tomou posse, Leandro Marques lembra que “se vivia um clima de instabilidade política na casa, com as eleições da DG/AAC e a mudança de dois conselheiros gerais e do representante do Magnum Consilium Veteranorum – Conselho de Veteranos da UC”. Contudo, elucida que “as contas apresentadas pela Tesouraria da QF mostram que as despesas ficaram em 1.016.485,54 euros, o que é inferior ao orçamentado. Em todos os pelouros foi respeitado o orçamento, menos nos das Infraestruturas e Tradição”. No que concerne ao primeiro, o secretário-geral justifica que “o aumento de despesas se deveu à troca de empresa para prestação de serviços de logística”. Quanto ao pelouro da Tradição, o mesmo adianta que havia encargos colocados de forma incorreta noutros pelouros, mas que, na verdade, diziam respeito a este. Devido a esta realocação das despesas, o orçamento foi excedido.
Nas considerações finas, Leandro Marques lamenta que os encargos financeiros acrescidos com entidades como a PSP, Cruz Vermelha e SPA “limitem o aumento de receitas”. Destaca ainda a melhoria da logística dos copos reutilizáveis. Realça, no entanto, o excesso de trabalho para o pelouro do Merchandising e Divulgação/Alojamento. Por último, refere que a edição da Queima das Fitas teve um “lucro que ronda entre os cem mil e os 110 mil euros”.
Chamado ao púlpito, o presidente do Conselho Fiscal da AAC (CF/AAC), Francisco Costa, teceu algumas considerações em relação aos factos enunciados por Leandro Marques. Começou por referir que o prazo de entrega do Relatório de Contas não foi cumprido. Ainda assim, ressalva que “houve uma maior aproximação ao prazo suposto, comparado ao atraso de um ano da edição anterior”.
Os serviços de Contabilidade, Tesouraria e Pessoal da AAC foram também alvo de crítica por parte de Francisco Costa. Este afirma que a “escassez de recursos dos serviços levou a um incumprimento no prazo de entrega do dito relatório”. Adianta ainda que “o processamento de faturação foi feito de forma ineficaz, dado a carga de trabalhos ser excessiva para um só funcionário”. Posto isto, o mesmo conclui que “o atraso levou a que o processamento de faturas e entrega do relatório se sobrepusessem à data da Festa das Latas e Imposição de Insígnias”.
No que concerne à divida que a DG/AAC tem para com a QF, o presidente do CF/AAC lembra que “não é apenas uma dívida para com a COQF, mas também para com todas as entidades abrangidas pela distribuição de verbas da festa”. O mesmo adianta que “o perdão da dívida revela incapacidade por parte da Direção-Geral em honrar os seus compromissos financeiros”. Refere ainda que “o aumento da dívida em cada edição da QF tem criado a preocupação de este ciclo culminar numa insustentabilidade financeira.” Por último, Francisco Costa conclui que o CF/AAC dá um parecer positivo ao Relatório Anual e Contas discutido em AM.
Quando questionado sobre o valor da dívida, o administrador da AAC, João Gonçalo, confirma que esta tem, no momento, o valor aproximado de 69 mil euros. “O perdão de parte da dívida anterior foi aprovado por unanimidade no Conselho Geral da QF. Era desleal e impossível continuar a dizer que esse dinheiro um dia iria chegar”, confessa o administrador da AAC.
Numa das últimas intervenções da AM, Diogo Vale, estudante de Medicina, apela à mobilização da “AAC como um todo”, no dia 12 de dezembro, com o intuito de se manifestar contra a falta de investimento no ensino público. Em jeito de resposta, o presidente da DG/AAC, Daniel Azenha, revela que este “não é o melhor momento para iniciar uma manifestação, uma vez que a AAC pretende, em primeiro lugar, apresentar propostas ao Governo”. A AM terminou com um discurso do ainda presidente da Mesa da Assembleia Magna da AAC, João Bento. Esclareceu que o objetivo da sua equipa “foi mudar o paradigma das AM”. Por fim, anunciou o cancelamento do jantar de tomada de posse dos órgãos centrais da AAC, uma vez que “é uma despesa extravagante quando se está a tentar reduzir uma dívida”.
