Autora do estudo considera discurso de Greta Thunberg negativista. “Comunicação dos media desresponsabiliza os cidadãos”, declara Neide Areia. Por João António Gama e Xavier Soares.
Analisar o discurso dos media sobre as alterações do clima é o objetivo do estudo levado a cabo por Neide Areia, investigadora do Centro de Estudos Socias (CES) da Universidade de Coimbra. Através da análise de notícias portuguesas e espanholas, concluiu que existe um discurso que se “esgota naquilo que são as políticas e desresponsabiliza os cidadãos”.
Realizado no âmbito do projeto europeu ‘RiskAquaSoil’, o estudo consistiu na análise de cerca de quinhentos artigos noticiosos cujo tema central são as alterações climáticas. Na sua origem, esteve a vontade de perceber como é que as alterações do clima estão a ser comunicadas pelos media, que “são a principal fonte de informação para o cidadão comum”, afirma Neide Areia.
Considerado superficial pela investigadora, o discurso dos media tende a focar-se nas alterações climáticas numa perspetiva política e institucional, enquanto “desresponsabiliza os cidadãos de tomar ações”. Segundo a mesma, “há que esclarecer os cidadãos sobre o tipo de comportamentos que têm e como estão a contribuir para a emissão de dióxido de carbono”.
Confrontada com a informação que cerca de cem empresas detém 71% das emissões de carbono a nível mundial, Neide Areia desvaloriza esse dado por considerar que o indivíduo também tem responsabilidade. “Se as empresas existem e produzem é porque nós consumimos”, justifica.
De passagem pela Península Ibérica para a Cimeira do Clima em Espanha, Greta Thunberg tem sido um dos nomes mais falados em Portugal nos últimos dias. Questionada sobre a controvérsia que o discurso da jovem sueca tem gerado, a investigadora considera-o “demasiado negativista” e relembra que o mesmo “não nos aproxima de soluções”. Um discurso pró-ativo, que responsabilize o cidadão pelas suas ações, “pode ter um efeito positivo para envolver os indivíduos nas questões ambientais”, conclui.
