João Bento é mestrando em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e presidente cessante da Mesa da Assembleia Magna da Associação Académica de Coimbra (MAM/AAC). Num balanço do mandato, realça a falta de participação dos estudantes na gestão da academia. “No momento em que deixar de haver AAC, a universidade não será a mesma coisa”, confessa. Por Beatriz Monteiro Mota
O que motivou a tua candidatura à MAM/AAC?
Já tinha feito parte de um núcleo de estudantes e estive alguns anos envolvido no associativismo. Acima de tudo, foi o desejo de fazer mais pela casa e foi nesse sentido que me associei ao projeto da Direção-Geral da AAC (DG/AAC) com o qual nos candidatámos. Além disso, este era um órgão em que víamos necessidade de fazer mudanças e tínhamos capacidade, interesse e ideias para tal.
Quais foram as conquistas deste mandato?
Logo desde início, reparámos que era um órgão que, apesar de ser estatutariamente definido como um dos mais importantes da Académica, acabava por estar banalizado. Cumpria os seus propósitos essenciais, ou menos que isso, e não tinha qualquer participação ativa junto das estruturas da casa. Tendo isso em conta, o nosso objetivo era ter um órgão ativo que ponderasse todas as decisões. Começámos a trabalhar com a DG/AAC, de seguida, com o Conselho Fiscal (CF/AAC), e depois vieram as mudanças no paradigma das eleições. As alterações às Assembleias Magnas (AM) começaram desde raiz e foram o que teve maior destaque. Quisemos também conquistar o respeito máximo dos estudantes nas AM, devido ao destaque que têm por decisões que tomaram na história. Uma das coisas que nos distingue é o facto de qualquer estudante, independentemente da sua situação, ter direito de voto. É necessário que os todos saibam os seus direitos e como podem fazer a diferença participando neste tipo de estruturas.
O que consideras ter ficado por fazer?
O trabalho nunca é finito. Uma das coisas faladas foi o voto eletrónico, algo que não fizemos, mas deixámos as bases para a futura mesa. Todo o resto do trabalho, na minha opinião, tem de ser consolidado ao longo dos anos. Trabalhámos na divulgação junto dos caloiros e dos estudantes em geral, mas, se isso for estanque, não vai ter qualquer resultado. Daqui a uns anos, em vez de três ou quatro por cento saberem o que é a AM, espero que passemos a ter 40 ou 50 por cento. Outro ponto a consolidar é o trabalho com os núcleos e secções. Com os núcleos, por serem as estruturas que lidam com os associados efetivos e por terem de sentir a importância de divulgar e trazer os seus associados. Com as secções, é necessário aumentar a adesão porque vemos muito poucos associados seccionistas a ir às AM e de lá são retiradas decisões de grande importância. Quero realçar que os associados seccionistas que não tenham direito de voto têm direito de intervenção e essas intervenções afetam as decisões. Um exemplo muito recente é a Assembleia de Revisão dos Estatutos que foi convocada em AM. Várias secções vieram depois referir assuntos que deveriam ter sido abordados, mas, não estando lá, não os incluíram.
Que falhas tens a apontar a este mandato?
Não consigo realçar nenhum ponto extremamente negativo. Tenho de salientar que houve, desde o início, um trabalho em equipa e acho que isso foi a chave do mandato. Confesso que era uma equipa que não conhecia e ao falar com todos eles, ainda antes das eleições, conseguimos consolidar ideias, ter algumas novas e fazer um projeto de todos. A partir daí, foi trabalhar com todos os órgãos. Como é óbvio, estamos a lidar com mais de 70 estruturas, mas, de todo esse trabalho, não realço nenhum episódio negativo. Em relação às eleições, algumas coisas podem ter corrido menos bem, mas isso resulta do próprio sistema eleitoral.
Que desafios enfrentaram?
O principal desafio é fazer com que os estudantes vão às assembleias. Fizemos sete assembleias ao longo do ano, três delas com quórum superior a 250 pessoas, mas houve muito pouca adesão autónoma dos estudantes. É necessário fazer uma divulgação extremamente intensiva, que ainda tem de ser melhorada. Outro desafio foi resolver alguns problemas como a situação da Queima das Fitas. Foi preciso insistir com a DG/AAC e com o CF/AAC para que os documentos estivessem prontos neste mandato.
Durante a tua candidatura, em entrevista ao Jornal A Cabra, disseste que era “essencial trazer todas as partes da casa à AM e dar a palavra a todos os estudantes”. Que medidas foram implementadas para alcançar isso?
Entrámos em contacto com várias estruturas. A principal acabou por ser o Conselho de Veteranos, mas também comunicámos com membros do Senado e do Conselho Geral. Efetivamente não conseguimos ter todas as estruturas a participar a cem por cento e esse é um ponto que me deixa um pouco triste. É importante existir informação para que as pessoas conheçam os órgãos, já que fazemos parte de uma universidade com tantas estruturas. Consequentemente, os estudantes não sabem a quem recorrer e, por isso, seria essencial essas estruturas trazerem o seu trabalho a público.
Nessa mesma entrevista, disseste que “a divulgação era um aspeto a melhorar”. O objetivo foi cumprido?
Sem dúvida. A primeira coisa que fizemos foi arranjar um modelo de divulgação para, quando existe uma AM, as estruturas saberem o que fazer. Também entrámos em contacto com os órgãos de comunicação social para que houvesse uma maior divulgação prévia. As inovações surgiram ao longo do mandato e a principal foi a Receção ao Caloiro. Houve também um vídeo sobre a atribuição do estatuto sócio-honorário aos dirigentes de 1969 e um outro que circulou na Latada com o objetivo de chamar à atenção dos estudantes para as magnas. Apostou-se ainda num perfil de Instagram da AAC.
Gostarias de comentar a afluência dos estudantes às últimas Assembleias Magnas?
O nosso mandato teve mais afluência do que o anterior, se os números estiverem corretos. Isto é muito bom, mas os números são muito maus. As pessoas acabam por não ir, por sentirem que a sua palavra não vai provocar alterações. É muito normal e é um grande problema que os associados não tenham à vontade para intervir, o que contribui para a diminuição dos temas discutidos. Cabe à MAM/AAC fazer com que os estudantes percebam a importância de participar. Outra das coisas que me deixa triste é o facto de não haver nenhuma magna convocada por estudantes, núcleos ou secções, apesar de os estatutos o permitirem. A meu ver, não é natural que seja sempre a DG/AAC a convocar assembleias. É importante que haja mais variedade de intervenção e de ideias. Cada vez mais se observam comentários nas redes sociais sobre assuntos como a propina internacional e o alojamento. No entanto, esses assuntos não chegam às AM.
Que sugestões de melhorias gostarias de fazer?
Isso é a pergunta para um milhão. Algo que resulta sempre é tomar uma decisão influente. No momento em que se faz uma escolha dessas, as pessoas passam a perceber e a pensar “tenho que ir e participar, senão vão tomar decisões com as quais não concordo”. Acho que num ponto drástico resultaria por aí. Como essa não pode ser a solução, acho que tem de se trabalhar na aproximação aos estudantes. O que a imprensa faz em divulgar as informações é essencial, pela forma como chega aos estudantes o facto de as decisões serem tomadas pelos presentes. Tem de se parar este tipo de divulgação ‘standard’, em que é publicada a assembleia com data e hora e se espera que as pessoas vão. Tem que se ir mais longe e fazer um apelo às pessoas. Este é um trabalho de vários anos que vai ter de ocorrer. Não acredito que seja no próximo, nem daqui a dois, nem três, e o pior é que quando surgir, se não continuar a ser consolidado, volta a esmorecer.
A que achas que se deveu a elevada taxa de abstenção nas eleições?
Hoje as pessoas acabam por se desinteressar, estas eleições foram muito menos concorridas que as dos últimos dois anos. Dão por adquirido que determinada lista vá ganhar ou acham que o seu voto não tem qualquer importância. Isto é muito preocupante, estamos a falar de uma geração que é o futuro do país. Uma das coisas que as pessoas têm que perceber é que, no momento em que deixar de haver AAC, a universidade não será a mesma coisa. Ninguém ia viver a universidade da mesma forma porque não ia ter representação pedagógica, atividades culturais, Queima das Fitas, Latada ou desporto. Estamos a lidar com 70 estruturas que constantemente defendem o que é melhor para si. O propósito deve ser sempre um: a casa e o seu bem-estar.
Em relação ao voto antecipado, achas que as expetativas foram alcançadas?
As expetativas não foram alcançadas a partir do momento em que tivemos menos de cem votos. Os resultados finais mostram que apenas cerca de um por cento dos estudantes usufruiu do voto antecipado. Não considero que a medida tenha corrido mal, nem que deva ser descartada no futuro. Acho que é justificada porque de facto há trabalhadores-estudantes que não podem dirigir-se às urnas no dia da eleição principal. De resto, parece-me que em eleições mais disputadas terá outro impacto. Acho que noutras eleições, como as do Conselho Fiscal, deve também ser implementado, mas temos de ser realistas, não vai obter números superiores. Acho que é de manter e profissionalizar.
Que balanço fazes do mandato?
O balanço que faço é extremamente positivo. É importante realçar que esta MAM/AAC não mudou as AM, no entanto, fez um trabalho contínuo. Recebeu a Assembleia de Revisão dos Estatutos, que nos fez ligar muito às estruturas, principalmente às secções culturais e desportivas. A mesa trabalhou sempre com todos os órgãos da academia de forma a garantir que a casa respondia às necessidades dos associados. A percentagem de coisas que ficaram por fazer é diminuta, sendo que a única coisa que não alcançámos foi o voto eletrónico. Estamos muito satisfeitos porque tudo o que propusemos funcionou e deixou os alicerces para próxima equipa prosseguir.
Gostarias de acrescentar alguma coisa?
Quero deixar a maior das sortes à equipa que se segue e dar os parabéns a quem se candidatou pelo esforço, interesse e dinamismo, mesmo não tendo ganho as eleições. Quero agradecer aos órgãos de comunicação social, por todo o destaque que foi havendo durante a campanha eleitoral, que foi completamente diferente dos anos anteriores. O que se passava noutras eleições era que a MAM/AAC não tinha qualquer destaque.
