Cultura

“Hantologia” no século XXI

carlos almeida

TAGV recebe o projeto pela primeira e única vez. Narrativa visual procura explorar as conceções do termo “assombração”. Por Carolina Prodan

No próximo dia 4 de dezembro pelas 21h30, o Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) acode o espetáculo “Hantologia”. Este é concebido e encenado por Mickaël de Oliveira e Nuno Cardoso, contando com a interpretação de Ana Sampaio e Maia, Camilla Morello, Catarina Luís e Joana Petiz. Este projeto é produzido pelo “Colectivo 84”, estrutura fundada em 2009 e com o objetivo de apostar na difusão e produção das artes performativas contemporâneas.

O mote deste espetáculo é “tal como a vida, também este projeto só se vive uma vez”. Pretende-se que esta seja a única apresentação porque “a própria ideia do espetáculo é o desaparecimento da vida”. O espetáculo trata das materialidades da vida em oposição à morte, acrescendo ainda a ideia de posse e de possessão, explicam Mickaël de Oliveira, criador e encenador do espetáculo.

Foi o filósofo Jacques Derrida que iniciou a “Desconstrução” em filosofia e também cunhou o termo “Hantologia”. Na sua obra “Espectros de Marx”, o pensador pretende retratar a manifestação ontológica de vestígios que vêm do passado e influenciam o presente. Mickaël de Oliveira assenta que “o tema “Hantologia” assenta numa ideia de uma assombração que invoca o passado, presente e futuro, num cruzamento temporal e numa ideia de ausência”.

Parte-se do conceito do filósofo e da ideia de “assombração” para criar este espetáculo como uma narrativa visual que procura explorar as conceções do termo na atualidade. Parte-se de ideias e inspirações externas que exploram a narrativa gótica do século XIX ou o “imaginário pop dos novos ‘ghostbusters’ de Youtube”.

Quando interrogado sobre o nome do projeto, o encenador confessa “não querer explicar muito o espetáculo, porque este vive-se e era uma pena desvirtuá-lo em dois minutos”, acrescentando que “a ideia é justamente não impor uma leitura”. Denota que “o intuito não é criticar seja o que for, a não ser o nosso próprio trabalho”.

Mickaël de Oliveira sublinha que pretende desviar-se daquilo em que costuma trabalhar e explorar outras vias de construção de espetáculo. Confessa ainda que prefere ouvir aquilo que as pessoas interpretam do que a sua própria interpretação.

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