Cultura

V TROVADOR: um “bem-haja a Coimbra” pelo prémio da Estudantina Académica de Castelo Branco

André Crujo

Bandeiras, pandereitas e estandartes concentraram-se no TAGV para uma noite de animação. Desenvolver sem se esquecer das origens é objetivo da FAN-Farra Académica de Coimbra para o futuro. Por Maria Monteiro

O segundo dia do V TROVADOR – Festival Internacional de Tunas da FAN-Farra Académica de Coimbra arrancou ontem à noite, no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), com a Noite de Festival. Ao longo do espetáculo apresentaram-se as tunas a concurso, que competiram para alcançar prémios em diferentes categorias, e as extraconcursos, convidadas pelo grupo da casa para atuar. 

 A sessão foi apresentada pelo comediante Ricardo Maria, que alternou momentos de humor com a apresentação dos conjuntos que iam atuar durante a noite. “Apresentar tunas é como começar um amor novo: errar o nome delas é chato”, brincou o apresentador no princípio da segunda noite do festival organizado pela FAN-Farra.

As tunas a concurso eram a Estudantina Académica de Castelo Branco, a Tuna-Mus – Tuna Médica da Universidade da Beira Interior, a Tuna de Medicina da Universidade de Coimbra (TMUC) e a Tuna de Medicina de La Laguna, um dos grupos internacionais presentes no evento. As tunas extraconcurso eram o grupo “irmão” da FAN-Farra, as FANS, o grupo colombiano Tuna de la Universidad Industrial de Santander (TUIS) e a tuna mexicana Estudiantina de La Universidad Autónoma de Querétaro. 

As atuações foram iniciadas com a participação das FANS, grupo que completou 30 anos de existência este ano. Apresentaram o original que dá nome ao seu primeiro disco autoral, “Sonho a preto e branco”, e o seu tema “Fonte dos Amores”, inspirado na história de Pedro e Inês. 

Seguiu-se a apresentação da Tuna de Medicina de La Laguna, iniciada pelo marcante “olé” espanhol. Os membros do grupo circulavam por todos os cantos do anfiteatro, carregando faixas de cor amarela, tom típico do curso que representam. Variando entre temas que falavam do seu local de origem, as Ilhas Canárias, e sobre o amor e a alegria de viver, o objetivo foi, segundo um membro da tuna, “trazer o que está nosso coração diretamente para o público”. 

A TUNA-MUS foi a terceira ‘performance’ da noite, uma estreia no festival TROVADOR. As canções apresentadas abordavam as temáticas dos desafios e dificuldades da vida e a capacidade de resolver esses desafios com “Revolta”. Os momentos de folia e aventura foram invocados com o instrumental “Volta ao Mundo”. Para além disso, a quinta canção apresentada pelo grupo, “Pastor sem Cajado”, carregava um teor crítico dos “tempos de hoje e do desinvestimento na cultura” e a importância de “tomar iniciativa e lutar”, como explicou um porta-voz do grupo. 

“Tierra Mestiza” foi a melodia que entoou no início da apresentação da Estudiantina de La Universidad Autónoma de Querétaro, grupo extraconcurso convidado a fazer parte do cartaz do festival. Os músicos do conjunto menos numeroso da noite conseguiram criar bom ambiente e animação do público ao ritmo das guitarras mexicanas. 

Outro grupo latino-americano também se apresentou na Noite de Festival do TROVADOR. Tal como o número reduzido de membros da Estudiantina de La Universidad Autónoma de Querétaro, a TUIS também teve uma particularidade: foi a única tuna mista da noite. Os intérpretes apresentaram dois temas e conseguiram envolver o público na criação do ritmo da música, através do pedido de palmas e gritos. 

De volta aos grupos nacionais, foi o momento de dar um “bem-haja a Coimbra” e atuar a Estudantina Académica de Castelo Branco. Os destaques da atuação foram a homenagem feita a Jorge Palma, através da canção “Estrela do Mar”, e a canção final “Adeus, que vou embora”, de António Variações. A tuna conseguiu manter a postura e passar a mensagem de “celebração da amizade” mesmo com a queda de um pandeireta e o tropeção do estandarte. 

Antes da apresentação final dos homens da casa, foi a vez da TMUC invadir o palco onde está mais que acostumada a atuar. A mestria dos bandeiras, embalados pelo som de “Briosa” e “Voar”, fechou com “chave de ouro” o concurso promovido pelo TROVADOR, segundo Ricardo Maria.

Seguiu-se a atuação do grupo anfitrião: a FAN-Farra Académica de Coimbra. Entre músicas e momentos de  interação com o público, fez conhecer o maior objetivo do conjunto ao longo dos seus 32 anos de história. “Inovar sem nos esquecermos das pessoas que já nos pertenceram é o que queremos para o futuro da tuna”, contaram antes de apresentarem “A Boémia”, onde trouxeram os antigos tunos para partilharem o palco com a nova geração. Finalizaram o efeito com o tema que dá nome ao festival, o primeiro original do grupo, “O Trovador”. 

No final do concurso, foram entregues prémios às tunas que tiveram melhor prestação em cada categoria. O júri e os representantes de cada grupo presente foram chamados ao palco para receberem os troféus por membros da FAN-Farra. As FANS, a Estudiantina de La Universidad Autónoma de Querétaro e a TUIS receberam prémios de participação. O primeiro troféu da noite, na categoria de Melhor Serenata, foi entregue à Estudantina Académica de Castelo Branco, que também levou para a casa os prémios de Melhor Instrumental e Melhor Tuna. A TUNA-MUS recebeu o troféu de Melhor Pandeireta e Melhor Estandarte, enquanto a TMUC foi reconhecida com o Melhor Original da Noite. A Estudiantina de La Universidad Autónoma de Querétaro levou para casa o prémio de Melhor Solista.

As comemorações continuaram nos jardins da Associação Académica de Coimbra (AAC), onde se cantaram os parabéns à tuna anfitriã do TROVADOR. Durante a festa, foi anunciado o vencedor do prémio Tuna Mais Tuna, que foi atribuído à TMUC. 

Catarina Pinho, investigadora na área de Engenharia Mecânica, veio ao festival motivada a ver o companheiro a atuar, membro da Estudiantina de La Universidad Autónoma de Querétaro. Para além disso, expressou o seu descontentamento ao não “ver o teatro a abarrotar de gente”. Para a jovem, “a universidade não deveria ser só copos e estudos, e festivais como o TROVADOR são de extrema importância para a valorização da cultura”.

Fotografias por André Crujo.

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