Sétima arte é evidenciada por Paulo Carneiro como forma de autoconhecimento. Cineasta português lamenta falta de influência do cinema português na cultura do país. Por Joana Carvalho
Paulo Carneiro, realizador e produtor natural de Lisboa, foi o convidado da última MasterSession da 25ª edição do festival Caminhos do Cinema Português. A palestra decorreu durante a tarde, na Casa das Caldeiras. À semelhança das anteriores, esta sessão foi também mediada por Sérgio Dias Branco, professor de Estudos Cinematográficos na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
O realizador inicia a sessão ao desmistificar “o cinema como um talento” e refere que “este era trabalho ao qual tem de se ter um grande amor e comprometimento”. Paulo Carneiro refere também que “se o realizador se dá ao filme, as pessoas que o veem dão-se da mesma forma”.
A recém-lançada longa-metragem do cineasta, “Bostofrio”, foi outro tema abordado na discussão. O realizador apontou a oralidade e “a forma como as pessoas contam as histórias” como um ponto chave neste filme. “[Bostofrio] é um diálogo e são as conversas que desenvolvem a narrativa”, reiterou.
No decorrer da palestra, Paulo Carneiro refere que o som é importante no seu trabalho, por “ter a capacidade de construir uma imagem sem que esta lá esteja”. O realizador explicou que é difícil que “um filme com um som muito mau se consiga ver, por não se conseguir percecionar a imagem como aquilo que é suposto ela ser”.
Paulo Carneiro lamenta que o cinema português não seja “mais influente na cultura portuguesa” e sublinha a necessidade de as pessoas verem mais filmes nacionais, como forma de “arquivar a memória contemporânea”. Explica também que “o cinema não tem a capacidade de mudar o mundo ou a sociedade, mas que ensina o indivíduo a olhar para si mesmo”.
O foco do trabalho do cineasta português é “para já, o documentário”. A razão pela preferência deste género fílmico é justificada por ter trabalhado como assistente de realização de João Viana, também realizador. “Eu trabalho com atores e interessa-me estar perto das pessoas, por isso faço documentários”, confessa.
No que diz respeito às influências de outros cineastas no seu trabalho, o realizador lisboeta reitera que “não há uma tentativa direta de lhes fazer referência”. Acrescenta que “uma pessoa é influenciada pelo tipo de cinema que lhe interessa”. O cineasta reforçou que não acredita numa influência direta, mas que os filmes por ele realizados “têm um bocado de cada filme” que viu.
Fotografia de destaque: À esquerda, o professor Sérgio Dias Branco. À direita, o realizador Paulo Carneiro.
