Diálogo conta com a presença de Clara Não e Eduardo Figueiredo. O assistente convidado diz que “todos somos preconceituosos”. Feminismo, propina internacional e Direitos Humanos foram tópicos de discussão. Por Carolina Prodan
“Olhares sobre a Inclusão” foi o tema que abarcou a conversa denotada como descontraída, dentro de uma sala formal, reluzente e luxuosa, no Palácio dos Melos. Este diálogo de jovens para jovens foi organizado pelo Gabinete de Inclusão do Núcleo de Estudantes de Direito da Associação Académica de Coimbra (NED/AAC), que desafiou os presentes com a questão “olhares sobre a inclusão: qual é o teu?”
O diálogo do Dia da Inclusão, como lhe chama o NED/AAC, iniciou-se com a perspetiva de Eduardo Figueiredo, assistente convidado da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FDUC). Ao falar sobre “Inclusão e Direito”, começou por salientar a importância de “tratar igual o que é igual e de forma diferente o que é diferente, na medida da respetiva diferença”, sendo este um princípio base no Direito.
O assistente convidado identifica o século XXI como o “século das identidades” e sublinha o facto de a igualdade de género estar ainda “longe de ser alcançada”. Chama a atenção para a urgência de tomar medidas que a promovam e que se traduzam na igualdade de oportunidades.
Para Eduardo Figueiredo, “inclusão é aprender com as diferenças e não com as igualdades”. Realça ainda que, “se se procurar na mente, há sempre de se encontrar algum tipo de preconceito”, pois “todos somos preconceituosos”. Remata que “o que é preciso é desconstruir esse pensamento e refletir sobre ele”.
A conversa continuou com Clara Silva, ilustradora mais conhecida como Clara Não, que abordou a inclusão no contexto atual das redes sociais. Quando questionada sobre o que é a inclusão, reforça que “não é submissão”. Para a artista, “incluir é tratar as pessoas como iguais, mesmo quando elas são diferentes”.
A ilustradora, autora de “Miga, esquece lá isso!”, ficou conhecida pelas publicações no Instagram, onde critica “assuntos que lhe dão comichão”, como o feminismo e os Direitos Humanos. No âmbito do primeiro, confessou que “as coisas estão a melhorar em espaços urbanos, mas não em contextos suburbanos” e acrescentou ver o “feminismo como a solução para os direitos sociais”.
Seguiu-se a perspetiva do presidente da Associação de Pesquisadores e Estudantes Brasileiros em Coimbra, Rafael Firpo, num “discurso irónico e provocador”, como o próprio descreve, relembrou que “a maior comunidade de estudantes brasileiros está na FDUC”. Deparado com a questão do preconceito, salienta que “ainda há preconceito e discriminação, mas é cada vez menor”.
Abordou a questão da propina, afirmando que em 2011, quando começou a estudar na UC, pagava 1200 euros, tendo subido para 7000. Quando questionado sobre o papel da AAC no âmbito da inclusão, Rafael Firpo desabafa não observar grande movimento da parte desta. “Os cabeças de lista podem começar por mudar o panorama dos estudantes que pagam um valor absurdo de propinas”. Deixa um apelo aos órgãos dirigentes da AAC para que “pensem na comunidade estudantil internacional, não só em tempo de eleições”.
Seguiu-se a vez da presidente da Secção da Defesa de Direitos Humanos da AAC (SDDH/AAC), Luiza Ambrosio e aluna da UC. “Falar de inclusão é falar de exclusão”, referiu a estudante. “Não somos todos iguais e a verdadeira inclusão é não precisar de incluir: a partir do momento em que pensamos que temos de incluir alguém, já estamos a excluir”.
O Gabinete de Inclusão foi uma aposta do NED/AAC para este ano. O seu intuito é promover a integração de todos os estudantes, “quer participem na praxe, quer não”. É uma ideia ainda em crescimento, que “vai evoluindo consoante as necessidades”. O objetivo deste projeto é realçar a importância da inclusão de estudantes internacionais e incentivar os outros núcleos a fazer o mesmo tipo de iniciativas.
[Artigo atualizado às 20h01 de 15 de novembro]
