Ensino Superior

Lista C – Académica Contigo

Antónia FORTUNATO

Daniel Azenha é mestrando em Geografia Humana, Planeamento e Territórios Saudáveis na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. É atualmente presidente da DG/AAC e recandidata-se pela Lista C – “Académica Contigo”, uma vez que visa dar continuidade e estabilidade à casa. Propõe que seja feita a reestruturação da sede e manifestou vontade de incluir o Museu Académico no espaço. Reforça a necessidade de saldar a dívida externa antes de se debruçar sobre a interna. Por Gabriela Moore e Francisca Soeiro

A tua candidatura conta com algum apoio partidário?

Não, pelo contrário. Nós temos pessoas de todos os quadrantes políticos, desde a esquerda à direita. Há membros da lista, inclusive eu, que fazem parte de juventudes partidárias.

O que é que motivou a tua recandidatura para a Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC)?

Em primeiro lugar, a vontade pessoal. Em segundo, percebi que existia apoio, não só dos elementos da minha equipa, como também da comunidade em geral. Várias vezes fui abordado por secções e colegas que me perguntaram se havia a possibilidade de continuidade. Nós também somos estudantes, e com o trabalho diário que temos é impossível estabilizar a casa e deixar um legado em apenas um ano.

Que balanço fazes do mandato?

Foi um mandato bastante positivo. Aproveitámos as legislativas e as europeias para consciencializar a comunidade académica sobre o assunto. Fizemos as operações relâmpago nas questões da refeição social nas Cantinas Amarelas e das residências estudantis. Criámos mais uma sala de estudo no Polo I, na Cantina dos Grelhados. Revolucionámos a Liga Académica porque queremos fazer com que qualquer estudante, independentemente da sua situação socioeconómica ou física, possa praticar desporto. Infelizmente, sabemos que as nossas secções não o permitem, até porque têm um número limite de atletas, mas com a Liga Académica conseguimos isso. Aumentámos também o financiamento público, com as candidaturas a projetos do Instituto Português do Desporto e Juventude e da Câmara Municipal de Coimbra. Preocupámo-nos ainda com a entrada no mercado de trabalho, que é muito difícil e oferece uma remuneração muito abaixo do que é expectável. Depois, voltámos a dar à AAC aquilo que já se tinha perdido há algum tempo: a irreverência. Muitos dizem que estamos afastados dos estudantes, mas eu discordo. As nossas iniciativas sempre tiveram o princípio da proximidade. Em relação à cultura, tivemos o aniversário da Crise Académica. Nunca mais vou esquecer o dia 17 de abril, em que o Alberto Martins está, 50 anos depois, naquela sala. O poder que os estudantes tiveram na altura permitiu-nos perceber o poder que temos no Ensino Superior.

Voltámos a dar à AAC aquilo que já se tinha perdido: a irreverência.

Quais são as bandeiras desta nova candidatura?

O projeto segue no sentido de estabilizar o que fizemos há um ano, mas vai ter novidades. Vamos continuar com uma postura irreverente. Porém, vivemos em estabilidade política e é difícil pôr dez mil estudantes na rua, a não ser que haja um problema gravíssimo. Em relação à cultura, ainda que seja difícil, pretendemos deixar já este ano um projeto para o futuro do Museu Académico, que gostaria que fosse na AAC. Vamos ter este ano a revisão dos espaços do edifício e pode haver aqui algum espaço para o próprio museu. A nível desportivo, queremos fechar um patrocínio global para todas as secções para reduzir custos dos equipamentos. Isto é, pensar no futuro, reduzir os custos às nossas secções e aumentar a fatia do financiamento. E a questão da administração, que é um dos pontos essenciais desta casa. Nós, felizmente, conseguimos reduzir a dívida. A nossa visão era pagar primeiro a externa para ganhar credibilidade com os parceiros. A redução da dívida e do seu pagamento a nível externo é obrigatória. Temos dívidas internas e temos de começar a pensar de que forma vamos pagar ao Conselho Desportivo da AAC (CD/AAC). Neste momento, não temos qualquer banco a patrocinar, que é essencial, e conseguir um vai ser um grande desafio.

Qual vai ser o papel da DG/AAC na questão das propinas? Há algum projeto em mente?

Nós entendemos que a propina é uma barreira ao desenvolvimento pessoal de cada um e que é obrigação do governo conceder. Portanto, a luta vai continuar, sempre irreverente. A propina foi reduzida, mas só em 200 euros, e ainda estamos muito longe daquilo que queremos. A ação social não deve servir para o pagamento da frequência no Ensino Superior (ES), porque tem um sentido muito próprio, relacionado com alojamento, alimentação e transporte. Isto está completamente errado, é o que temos manifestado e que vamos continuar a manifestar.

Os estudantes internacionais pagam 7000 euros por ano. Como te posicionas em relação a esta questão?

Entendemos que o estudante internacional também não deve pagar propina. Para nós, o princípio é exatamente o mesmo. Qualquer humano, qualquer pessoa deve ter acesso ao ES. Já manifestámos essa preocupação à reitoria dizendo que não faz qualquer sentido. Até porque eles nos trazem, por exemplo, a multiculturalidade e as próprias famílias. Tudo isso é riqueza e desenvolvimento no nosso país. Em relação à propina, falámos também dos estudantes internacionais. Aproveitámos todos os momentos. Quando conversámos agora com os partidos políticos falámos sobre isto.

Qual o papel da DG/AAC na discussão das políticas públicas do ES?

É de grande importância. Recordo que este ano escrevemos uma carta ao ministro da Educação, na qual pedimos um esclarecimento em relação à propina zero e fomos recebidos pelo secretário de Estado do Ensino Superior. Com isto, sentimos que a AAC tem muita força a nível nacional. Sempre que nos pronunciamos, isto chega a Lisboa e eles percebem que é algo sério.

Quais são as propostas para as secções culturais?

A nível cultural, o objetivo é aproximar a associação daqueles que vivem em Coimbra. É importante que haja uma ligação porque não queremos que os habitantes da cidade nos olhem como um corpo estranho. Percebemos que as pessoas não sabem das nossas atividades, por isso fizemos uma agenda onde podem saber tudo o que a AAC tem planeado.

E a nível desportivo?

A nível desportivo, a capacidade e o reforço financeiro, que é algo que queremos ver já no próximo ano. É preciso puxar o patrocínio global para as nossas secções de forma a reduzir esses custos e reforçar também a nossa Liga Académica.

Quais são as propostas para os organismos autónomos?

Ainda só reunimos com os grupos académicos. Eles tinham realmente muitos problemas, tanto na Queima das Fitas (QF), como na Festa das Latas. Quisemos perceber o porquê de estarem constantemente a manifestar-se. Conseguimos estender, com a Câmara Municipal, a duração da atuação no palco principal. No ano passado, as tunas começaram a atuar às 22 horas e este ano às 23 horas. De resto correu tudo bem, a não ser a irreverência de alguns grupos, que é normal.

O que tens a dizer em relação a boicotes de grupos académicos, uma vez que é uma situação que se tem vindo a repetir, em específico na Latada?

Nesta Latada só tivemos um grupo a boicotar. Este ano, decidimos que não existiriam horários fixos para algumas tunas, porque, para nós, todos os grupos são iguais, pelo que fizemos um sorteio. A Tuna de Medicina da Universidade de Coimbra (TMUC) foi o único grupo que não esteve presente. Eles ficaram descontentes com a hora que lhes calhou e entenderam que era desprestigiante. Mas a atitude foi lamentável. Deixaram que o cartaz saísse, que fizéssemos as credenciais e tivéssemos o transporte e a alimentação a fazer conta com eles. Nunca manifestaram descontentamento. Nós respeitámos a decisão, mas não íamos voltar atrás com a nossa palavra.

Com o trabalho diário que temos é impossível estabilizar a casa e deixar um legado em apenas um ano.

Tens algum projeto em andamento para a reestruturação do edifício da AAC?

Foi-nos deixado um projeto pela direção do ano anterior que ainda vamos analisar. Mas vamos precisar do bom senso de todas as estruturas que coabitam no edifício. Umas têm muitas salas, outras têm salas a menos. Tem de existir um equilíbrio. Claro que não vão haver expulsões – isto é algo que eu prometo. Até porque queremos criar novas secções. Temos a Pró-Secção de Futsal, que se vai tornar secção, e com isto tem direito a uma sala, como dizem os nossos regulamentos. Vamos ter também uma Pró-Secção de Boccia que, daqui a dois anos, vai ter a possibilidade de virar secção. O espaço é limitado e todos nós temos de ser sensíveis uns com os outros.

Esta reestruturação já é discutida há algum tempo. Quanto achas que demora a entrar em funcionamento?

Tem de ser implementada já este ano. Confesso que tenho algum receio, porque isto vai destabilizar algumas estruturas. Deve ser feito com sensibilidade da nossa parte, não vamos ter uma postura agressiva. Vamos sentar-nos todos, frente a frente, e apresentar a nossa proposta, que vai ser discutida este ano. Portanto não vamos permitir boicotes. Queremos crescer e a Académica não pode estar dependente de vontades próprias.

A dívida externa já está a diminuir. E a interna?

A estratégia neste momento é pagar a externa. Temos muito acordos de pagamentos judiciais, que são mais graves porque podem meter-nos em tribunal. E não podemos ser inconscientes em relação a isto. Depois vamos saldar, mais lentamente, a interna, que se refere a dívidas que temos com a Queima das Fitas (QF) e com o CD/AAC. A primeira está a ser reduzida todos os meses, com a DG/AAC a pagar o salário dos dois funcionários da QF, e penso que pode ser liquidada neste ano ou no próximo. A segunda ainda não conseguimos perceber de onde vem. Já nos sentámos com o CD/AAC, mas ainda não avaliámos toda a dívida que temos a nível interno – que, neste momento, é só ao desportivo. É uma preocupação porque eles têm de inscrever atletas, assegurar condições desportivas, equipamentos e estruturas físicas onde treinar. Mas neste momento, o que queremos é pagar a dívida externa. Assim que saldarmos a dívida externa, aceleramos o pagamento da interna.

Existem maneiras de aumentar o financiamento da casa?

Espero que sim. Um grande objetivo é aumentar o financiamento público. Como é uma recandidatura, sinto que a equipa está mais estável e bem informada sobre tudo que é preciso para evitar perder alguns financiamentos. Também é importante reforçar que o financiamento privado tem alguma importância. De momento, vivemos à conta das festas académicas e dos contratos com a cervejeira e com o bar. Mas o banco, para o ano, tem de ser uma realidade.

Quando anunciaste a recandidatura falaste em profissionalizar a casa. O que significa isto?

É, no fundo, diminuir a burocracia. Um exemplo é a nossa tesouraria porque, neste momento, todas as faturas passam por lá e temos vontade de a descentralizar. Se uma secção quiser levantar dinheiro, é lá que se deve dirigir, estando dependente dos seus horários. A nossa ideia é ter uma plataforma em que todos os dirigentes de cada secção, núcleo de estudantes e a própria DG/AAC possam facilmente inserir alguns dados no que diz respeito à faturação, aluguer de espaços ou mesmo da própria frota. Não é para torná-los independentes, é para não atrasar a sua atividade.

Os relatórios de contas das últimas edições da QF têm sofrido atrasos. Consideras o prazo apertado?

Na minha visão, os prazos deveriam ser ainda mais apertados. Não é admissível que a Queima das Fitas termine e passado um mês ou dois ainda não tenham entregado um relatório de contas. Temos várias empresas e associações que conseguem cumprir os prazos. Porque é que a Comissão Organizadora da Queima das Fitas (COQF) não consegue? O que temos de fazer é responsabilizar os nossos dirigentes e o próprio secretário-geral, que é funcionário da COQF. E fazer com que eles saibam que, caso não entreguem dentro do prazo, ou apresentam uma justificação ou são sancionados internamente.

No ano passado, houve quatro candidaturas e este ano há apenas duas. Qual consideras ser a razão?

Acho que tem a ver com o trabalho da DG/AAC, que este ano desempenhámos bem. Há dois candidatos e não há muito mais a dizer. Mas a verdade é que podiam existir imensas listas, o que reforçaria o poder democrático da casa.

As Assembleias Magnas (AM) foram estendidas aos outros polos. Achas que a adesão correspondeu à expectativa?

A do Polo II não teve muita adesão, mas a do Polo III esteve lotada. Tentámos perceber o que se passou no Polo II e a verdade é que os serviços de transporte para lá são reduzidos. De noite há ainda menos, daí o João Bento, presidente da Mesa da AM, ter dito que as Magnas deviam ser durante a tarde. Muitos colegas habitam no concelho de Coimbra, mas não no centro. E isto era também a pensar neles. Percebemos que não deu resultados, mas pelo menos ele [João Bento] tentou.

Qual a tua posição em relação à retirada da carne de vaca do menu das cantinas? Em que medida a AAC pode contribuir para as questões ambientais?

Em relação à carne de vaca, nós declarámos apoio à iniciativa da reitoria. A mensagem que a UC e a AAC passaram é que estamos a chegar à linha vermelha. O reitor disse que sentia vergonha da geração que não se preocupou com o futuro. Nós não podemos cometer o mesmo erro. Quando tivermos 30, 40, 50 anos, não podemos sentir vergonha da nossa geração e dizer que não fizemos nada. Em relação à Direção-Geral: já na Latada fomos um ecoevento, o que nos deixou muito felizes. Conseguimos ter imensos caixotes para reciclagem em condições. Aliás, a empresa ERSUC ficou muito satisfeita connosco. Tivemos os copos reutilizáveis, que foram também uma problemática. Não é uma questão económica, mas sim uma preocupação ambiental para a casa. O próximo passo é tentarmos ser selo verde, o que é mais sério porque vem do Ministério do Ambiente.

Algum apelo que queiras fazer aos estudantes?

Quero dizer, acima de tudo, que participem e que exerçam o direito de voto, independentemente da vontade de voto. Se concordamos com uma lista, com outra ou com nenhuma, não interessa. Mas que se dirijam às urnas e votem.

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