Cultura

Lilian Thuram: “É necessário discutir as normas em que a sociedade nos fechou”

Simão Moura

“Ninguém nasce racista, torna-se racista” é o lema da Fundação criado pelo ex-futebolista. Xenofobia na Europa foi o foco da palestra. Por Antónia Fortunato e Simão Moura

Lilian Thuram, ex-futebolista francês que se consagrou campeão do mundo em 1998, esteve esta terça-feira no auditório da reitoria da Universidade de Coimbra (UC). A conversa inseriu-se no projecto de investigação do Centro de Estudos Sociais da UC, “Memoirs- Filhos de Império e Pós-memórias Europeias”.

O ex-atleta criou em 2006 a Fundação Lilian Thuram sob o mote “ninguém nasce racista, torna-se racista”. Em 2009 publicou o livro – “As minhas estrelas negras” –  escrito como “uma prenda para a criança que fui”, explicou. Na obra dá a conhecer pessoas negras que o ajudaram a aumentar a autoestima. Foi também galardoado com o titulo Doutor Honoris Causa nas universidades de Estocolmo e Sterling.

Para Thuram “ser preto numa sociedade é ficar no sítio. Há coisas que não se pode perguntar, que não se pode fazer”. Confessou que, em França, é difícil falar sobre racismo e acrescentou que já foi acusado de ser “anti-branco”. Explicou que a maioria da população francesa não sabe que houve segregação no seu país. A fundação pretende resolver este problema ao ter um papel mais ativo no percurso escolar dos jovens, através de visitas e palestras.

O que impressiona o desportista é que a forma como nos definimos é uma construção adotada pela sociedade. Para ele, “ser branco é um pensamento, não uma verdade. As crianças não se reconhecem pela cor da pele”. Thuram argumenta que é a forma como somos educados que cria esta perspetiva. Para ilustrar a sua opinião, usa a figura de Cristóvão Colombo como exemplo de  “dominação”.  Nos livros de história aparece como o herói que descobriu a América, embora o continente já fosse habitado, elucida. É com estes casos em mente que diz ser “necessário discutir as normas em que a história nos fechou”.

Sugere uma mudança de paradigma. “Normalmente falamos de pessoas que são discriminadas. Eu digo para falarmos das pessoas que são brancas.” O antigo campeão do mundo realçou que o racismo não é um problema dos alvos, mas sim da sociedade que o efetiva. Os “racistas têm de assumir responsabilidades”, continuou.  Apesar de defender um esforço ativo para que “os indivíduos saiam do pensamento de que são a norma”, percebe que é um processo demorado, já que “as sociedades não mudam de forma rápida ou radical”.

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