Cultura

“Filho?” – um teatro infantojuvenil para todas as idades

carlos torres

Discursos de ódio e intolerância apresentam-se como temas centrais do espetáculo. Encenador visa criar inquietação e dúvida no público. Por Carlos Torres

Tem hoje lugar, pelas 21h30, no Teatrão – Oficina Municipal de Teatro, a apresentação da peça “Filho?”, do dramaturgo e encenador João Neca. Inspirado na obra “Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas”, de Afonso Cruz, e fruto de uma colaboração criativa entre o Teatrão e o Teatro O Bando, o espetáculo conta com a participação de João Santos, Margarida Sousa, Raul Atalaia e do convidado especial, Miguel Rosado.

A criação desta peça partiu de um desejo antigo de colaboração entre as companhias, afirma João Neca. O mesmo relembra que, “a cocriação proposta pelo Teatrão vinha no seguimento de uma série de espetáculos dedicados à infância e juventude a partir de autores portugueses”. O autor escolhido em 2019 foi Afonso Cruz, o que coincidiu com um projeto que O Bando já tinha do mesmo escritor.

Questionado sobre a escolha da obra literária, o encenador revela que “queria falar do ódio, da intolerância e da incapacidade que há em lidar com o que é diferente, temas esses bem presentes no livro”.  Para o dramaturgo, “só faz sentido fazer o espetáculo em 2019 se for possível abordar estes temas e dar uma perspetiva do livro que o inscreva no presente”.

Num espetáculo dirigido ao público infantojuvenil e famílias, a intenção de João Neca é “criar dúvida nos espectadores”. Na sua opinião, “a arte tem a missão de criar inquietação, e, com este espetáculo, tem vontade de deixar um ponto de interrogação e despertar curiosidade nas pessoas”. No final de cada atuação, há lugar para uma conversa com a plateia com o objetivo de discutir os temas abordados. Como esclarece o encenador, “não se pretende oferecer qualquer tipo de respostas, mas espera-se que o que não fique bem percebido seja questionado”.

Quanto ao processo criativo, que conta com nove meses de gestação, João Neca explica que “foi um espetáculo criado de mãos dadas, com uma partilha muito grande entre o Teatrão e O Bando”. Para o dramaturgo, trata-se de “um espetáculo sem tabus, que fala da morte, do ódio, do amor e da tolerância”. O mesmo entende que “são temas perante os quais se colocam as crianças numa redoma de vidro e, quando a redoma parte, elas são confrontadas com um mundo diferente”.

A peça vai estar em apresentação até ao dia 28 de dezembro, na Oficina Municipal do Teatro de Coimbra. De segunda a sexta-feira têm lugar as sessões escolares, às 10h30. Já ao sábado, dia dedicado ao público em geral, a atuação tem início às 17h. As sessões de sábado vão ser interpretadas em Língua Gestual Portuguesa pelos alunos e profissionais da Escola Superior de Educação de Coimbra.

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