Ensino Superior

Saúde mental na UC: estruturas de resposta existem, mas procura é maior que a oferta

Maria Monteiro

Quase metade dos estudantes nas consultas de psiquiatria dos SASUC têm distúrbios de ansiedade. Desinformação sobre os serviços é preocupante. Por Joana Carvalho e Antónia Fortunato

“Prevenir e Cuidar” é o slogan do Seminário de Promoção de Saúde Mental em Espaço Universitário, que teve lugar esta terça-feira, na Sala do Carvão da Casa das Caldeiras. A organização do evento resultou de uma colaboração entre os estudantes conselheiros gerais da Universidade de Coimbra e os Serviços de Saúde e Gestão de Segurança no Trabalho dos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC), com o apoio do Conselho Geral da Universidade de Coimbra (CGUC).

De acordo com o representante dos estudantes do 3º ciclo no CGUC, Luís Coimbra, o evento tem dois objetivos principais. O primeiro passou por “consultar e fazer um debate sem estigmas e sincero com a comunidade académica”, de forma a propor políticas para melhoria da saúde mental, esclareceu o estudante conselheiro. O segundo objetivo foi divulgar as estruturas de apoio existentes na universidade. Quanto à estruturação do seminário, Luís Coimbra explica que tentaram “construir as sessões para dar resposta a todos os subgrupos dentro da comunidade académica”.

O diretor do Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), Horácio Firmino, referiu que os serviços médicos da UC não respondem à procura nem às verdadeiras necessidades dos estudantes. Explicou ainda que os estudantes universitários são um grupo de risco para o desenvolvimento de problemas psicológicos devido ao contexto em que acabam de se inserir.

Já o diretor clínico dos Serviços de Saúde da UC, António Queirós, levantou dois principais problemas ao atendimento a estudantes deslocados no seio académico: o desconhecimento das estruturas dos SASUC e a recusa por parte das unidades de saúde de Coimbra em atender estes estudantes. O médico apontou a necessidade sentida pela UC em criar serviços que apoiem estes alunos.

Nesse sentido, foram criados serviços de prevenção e remediação de saúde mental. Dentro da primeira categoria inserem-se iniciativas para o desenvolvimento de competências de comunicação, regulação emocional e gestão de conflitos. No âmbito da remediação, os SASUC dispõem de consultas médicas na área de Psiquiatria e Psicologia. Destaca-se o protocolo estabelecido entre o CHUC e os SASUC em 2015, que permitiu a criação da Consulta do Jovem Universitário.

A falta de informação em relação aos serviços disponíveis é um problema que preocupa António Queirós, assim como a sua divulgação. “Incomoda perceber que há pessoas que não fazem a mínima ideia que podem dispor deste tipo de cuidados”, lamenta. Para colmatar esta falha, os serviços de saúde tentam transmitir a sua oferta tanto através dos núcleos de estudantes, como pela Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra.

Vários oradores evidenciaram os distúrbios relacionados com a ansiedade como a principal perturbação que afeta os estudantes do Ensino Superior. Cerca de 45 por cento das pessoas atendidas nas consultas de psiquiatria sofrem deste transtorno, afirma Sofia Morais, médica psiquiatra dos CHUC. De forma semelhante, António Queirós refere que “cada vez trabalhamos mais, cada vez nos exigem mais, cada vez vos exigem mais a vocês e uma queixa frequente é a falta de tempo”.

Maria Candeias, aluna do 2º ano de Mestrado em Psicologia na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da UC, esteve a assistir às sessões da manhã e considera esta iniciativa importante para se “ter uma noção aprofundada” das questões que envolvem a saúde mental. Ressalta também que os oradores tiveram sempre um discurso “simples e não tão técnico”, o que tornou as sessões acessíveis a todos os ouvintes. Reforça a importância de “olhar mais para o outro e não só para nós mesmos”.

Durante a tarde tiveram lugar sessões com a participação de vários colaboradores dos SASUC, como a SOS Estudante, o Conselho Internúcleos e o reitor da UC, Amílcar Falcão. As temáticas abordadas focaram-se no papel da comunidade no combate aos problemas de foro mental.

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