Ciência & Tecnologia

A ciência por trás de um artista

Maria Monteiro

Corpo humano como ponte entre Ciência e Arte é debatido em palestra sobre a obra de Da Vinci. Dois polos temáticos do conhecimento humano são desconstruídos. Por Xavier Soares e Carlos Torres

Começou ontem, no Rómulo – Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra (CCVUC), a quarta edição do ciclo de palestras Ciência às Seis. Coordenado por António Piedade, bioquímico e comunicador de ciência da Universidade de Coimbra (UC), trata-se de “um ciclo de palestras de divulgação científica para toda a gente”. Intitulada “Leonardo da Vinci: uma “arte” do intervalo”, a primeira apresentação teve como foco a obra do artista e a sua relação com a ciência, tentativa de demonstrar uma ponte entre o mundo artístico e o campo científico.

Como revela António Piedade, o objetivo é “tentar divulgar, por um lado, a obra e os estudos de investigação dos palestrantes, e também permitir que o conhecimento e a cultura científicos, cheguem ao maior número de pessoas.” Esta nova temporada é composta por um total de 14 sessões que seguem até julho de 2020. Nestas vão ser apresentados uma diversidade de temas, mantendo-se, no entanto, “o ADN do ciclo”, explica o coordenador.

A primeira sessão realizou-se no Rómulo e teve como primeira palestrante Cláudia Ferreira, investigadora do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da UC. A palestra centrou-se na pintura do corpo humano e a sua importância para a evolução da medicina moderna. Cláudia Ferreira refere que “a anatomia começou por ser um interesse específico da Ciência, contudo, a Arte pegou neste campo como uma forma de renovação do mundo”. 

De forma a estabelecer uma ligação entre científico e masculino e entre artístico e feminino, a palestrante apresentou uma série de encadeamentos destes dois polos, sendo nesta teia de ligações que se dá uma “arte do intervalo”. O corpo humano foi, a partir do Renascimento, “entendido, por um lado, como corpo corporativo de natureza masculina, e por outro, como pele ancestral de natureza feminina”, conta Cláudia Ferreira. Segundo a palestrante, as primeiras pinturas que o retrataram mostraram-se “verdadeiros pontos de viragem”.

No final da palestra, houve espaço para um debate de ideias entre o público e a oradora, onde os intervenientes concordaram em relação ao relevo da obra anatomista de Leonardo Da Vinci. Entre os vários espectadores, Cláudio Machado, estudante da UC, confessa que “Da Vinci através da anatomia conseguiu revolucionar tanto o mundo da Ciência como o mundo da Arte” e que “é evidente a ponte entre os dois temas”. Do mesmo modo, o coordenador do ciclo reforça a ideia que “a ponte entre estes dois universos é uma forma de se materializar o diálogo que tem de existir entre estas duas facetas da experiência humana”.

A próxima sessão, cujo tema é “A pluvisilva (amazónia) e sobrevivência humana”, vai ocorrer no dia 30 de outubro no Rómulo e conta com a presença de Jorge Paiva. 

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