Cidade

Feira Cultural de Coimbra atrai sabores e palavras que perduram no tempo

Gabriel Rezende

De Moçambique a Portugal, sem esquecer a música brasileira, a mostra de Coimbra volta à margem direita do Mondego. Artesanato, livros e gastronomia homenageiam os 30 anos da atribuição do Prémio Camões a Miguel Torga. Por Gabriel Rezende e Isabel Simões

Sob um calor de verão em plena primavera, a Feira Cultural estende-se sob as tílias do Parque Manuel Braga. Durante onze dias, os visitantes podem adquirir artesanato regional, comprar livros com desconto, assistir a um espetáculo musical ou retemperar forças com umas belas favas, à semelhança do que conta Almeida Garrett, em “Viagens na Minha Terra”.

Com 90 opções de artesanato, há tradições que passam de geração em geração. Rosa Conde, tecedeira de Pardilhó, na região de Aveiro, vende em feiras de artesanato e no ‘atelier’ que tem na Praia da Torreira. Filha de um marinheiro, tece, como a mãe nas horas vagas, tapetes e colchas que já chegaram a Londres. A Câmara Municipal de Coimbra (CMC) oferece aos artesãos e livreiros o espaço expositivo, o que não acontece em outras feiras do país. Rosa Conde realça a oferta.

A tecedeira está na mostra com o marido, Manuel Rufo, que faz brinquedos em madeira e os envia para lugares tão distantes, como a Austrália, ou exóticos, como o Bareine. Para o pequeno país do Golfo Pérsico, o artesão enviou réplicas do Dodge Charger RT da série estadunidense “Os Três Duques”, desenhadas pelo filho, o designer da pequena empresa familiar.

Há ainda livreiros independentes de banda desenhada, ficção e poesia, e representações institucionais, como a Imprensa da Universidade de Coimbra (UC). Junto ao rio Mondego, a feira do livro reúne pequenos e grandes editores de todo o país. Na mostra, não faltam os alfarrabistas.

Vítor Martinho continuou o negócio do pai e vem há mais de 40 anos a Coimbra, desde a primeira edição da feira do livro. Com a banca montada em frente ao busto de António Arnaut, conta que tem guardado o livro “Trovas de Coimbra”, de Gonçalves Cunha, a pedido do pai do Serviço Nacional de Saúde que faleceu há um ano. Aguarda agora que a obra suscite o interesse dos herdeiros. “Tudo o que fosse de Coimbra, António Arnaut gostava de ter”, revela o alfarrabista.

Sabores e músicas do mundo na margem do Mondego

À semelhança das outras edições, não faltam comidas de múltiplos sabores do mundo. Desde jaquinzinhos de escabeche até ao queijo da Serra da Estrela e ao mel da Lousã, sem esquecer a comida do Oceano Índico, de tudo se pode aconchegar o estómago, depois de veranear pela feira.

Ivone Bila, da Organização da Mulher Moçambicana, refere estarem na feira pela segunda vez a convite da CMC. Em Coimbra há 14 anos, o apoio da câmara trouxe visibilidade à associação que se dedica a atividades de caráter cultural e humanitário. Para além do macoufo de camarão e do caril de frango, a novidade de 2019 é a mousse de malambe, fruto do baobá – que conhecemos como embondeiro.

Não faltam espetáculos musicais durante o dia e ao final da noite. O coreto do Parque Manuel Braga vira palco a partir desta sexta-feira, com os Twist Connection, banda da casa que gosta de ‘Rock n’ Roll’. O álbum homónimo da banda foi considerado um dos melhores de 2018 e o programa Santos da Casa, da Rádio Universidade de Coimbra, elegeu-o como uma das melhores bandas ao vivo no ano passado.

A Feira Cultural de Coimbra assinala os 30 anos de atribuição do Prémio Camões ao escritor Miguel Torga. As comemorações decorrem no sábado 8 de junho, pelas 18h30, com a conferência “Miguel Torga e a (consciência da) portugalidade”. O diretor da Biblioteca Geral da UC, José Augusto Bernardes, o poeta Manuel Alegre e a filha do homenageado, Clara Rocha, marcam presença no auditório da feira.

O certame encerra no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, 10 de junho, com apresentações de diversos organismos autónomos da Associação Académica de Coimbra.

Fotografias por Gabriel Rezende

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