Ensino Superior

Carro alegórico de História “Alcoholocausto” gera indignação estudantil

Inês Duarte

A controvérsia originou uma petição pública para que alterassem o nome. Caso se mantenha, os criadores preparam um evento para impedir a passagem do carro no  cortejo da QF de 2019. Por Diana Ramos

“Alcoholocausto” é o nome do carro alegórico do curso de História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) para a Queima das Fitas de 2019. A escolha tem gerado polémica dentro da comunidade académica. Para fazerem com que os novos fitados de História alterem o nome do seu carro, Miguel Monteiro e Teresa Nunes, estudantes da licenciatura em Estudos Clássicos da FLUC, criaram uma petição pública online, que conta com mais de 550 assinaturas.

Segundo Miguel Monteiro, “a petição foi criada após terem esgotado todos os outros meios de diálogo direto com o grupo dos fitados”. A comissão do carro de História chegou a publicar um comunicado na sua página sobre o assunto, que foi apagado mais tarde. No que diz respeito às suas justificações, Teresa Nunes reprova que “os argumentos sejam construídos sobre telhados de vidro”.

A autora da petição acrescenta que “holocausto” não tem origem etimológica na palavra “caos”, como os estudantes defendiam, mas antes em “caustos”. Teresa Nunes explica que este termo significa queimado e incinerado e, está relacionado com a cremação. Assim, “o nome do carro transmite a ideia da menorização (do genocídio) e banaliza o sofrimento das vítimas”, reitera.

A estudante de Estudos Clássicos acha também paradoxal a comissão satirizar o abuso de álcool, mas terem como imagem de capa, no facebook da página, uma caneca de cerveja e uma ambulância. “Criticam o consumo exagerado de bebida, mas, ao mesmo tempo, fazem uma apologia aos excessos”, contesta. Afirma que o comunicado apresentava ideias vagas, inclusive nos argumentos dados à crítica ao Ensino Superior.

Teresa Nunes sustenta que “por muito gigantescos que sejam os problemas do ensino superior, não se pode compará-los com um crime hediondo”. Lamenta ainda a “desculpabilização” por parte da Secção de Defesa de Direitos Humanos da Associação Académica de Coimbra.  Esta secção considerou que não passava de uma atitude irrefletida, e que os estudantes eram movidos por boas intenções.

“Gostamos de pensar nisto como ganhar bom senso”, assume Miguel Monteiro. O estudante sublinha ainda, que o objetivo é construir um debate público assente numa “razão democrática”. Teresa Nunes enfatiza que é necessário ter “consciência de que as palavras têm poder e que a liberdade de expressão implica um discurso adulto e responsável”. A mesma salienta que estão a tratar de uma forma “simplista os valores democráticos, como a liberdade de expressão e a liberdade humorística”.

Na possibilidade de o nome do carro alegórico do curso se manter, Miguel Monteiro afirma que há um evento a decorrer intitulado “No Cortejo da Queima das Fitas diz NÃO ao ‘Alcoholocausto’!”. A iniciativa vai reunir estudantes interessados em bloquear o carro.

A comissão do carro de História apenas se mostrou disponível a prestar declarações após o dia 5 de maio.

Com Nuno Morgado

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