Com bandeiras coloridas ao ar e ao som de cânticos a comunidade LGBT de Coimbra e amigos reuniram-se para marchar por direitos iguais. Antes distribuíram abraços contra a discriminação. Por Gabriel Rezende e Isabel Simões
O Sol abriu por entre as nuvens para deixar passar cerca de quinhentos manifestantes da Marcha da Luta Contra a Homofobia e a Transfobia de Coimbra. A data é considerada importante pela comunidade, uma vez que a Organização Mundial da Saúde excluiu a homossexualidade da sua classificação de doenças em 17 de maio de 1990. “Nem menos, nem mais, direitos iguais”, “LGBT, liberdade sexual”, “As bi, as gay, as trans, as sapatão, está tudo organizado para fazer revolução” foram algumas palavras de ordem, entoadas por entre sorrisos e abraços.
Alguns vieram por solidariedade para com os amigos LGBT, como Alberto de Sousa Lino. Outros pela importância de lutar pela garantia dos direitos, contou João Pratas. A celebrar dez anos de existência, a comunidade continua a sair à rua porque “não mudou grande coisa” na sociedade, afirma Diogo Rivers, porta-voz da Plataforma Anti Transfobia e Homofobia de Coimbra (PATH). Já Joana Brilhante, membro da organização e do não te prives: Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais, refere que mudou “muita coisa em termos legislativos”, mas que, apesar de Portugal ser um país com alguma proteção para pessoas LGBT, “ainda há um caminho grande a percorrer em termos sociais”.
“Já houve mais ambientes ‘queer-friendly’ em Coimbra” revela Diogo Rivers. Sugere que a comunidade LGBT se apodere dos espaços para torná-los “puramente ‘queer’”. Há um empecilho: a dificuldade no acesso e a falta de recursos financeiros. Antes de mais, é necessário “pôr as pessoas a falar” alega Cláudia Teles, da Rede 8 de Março. Propõe mais debates na Universidade de Coimbra, para colocar a questão na ordem do dia. Os organizadores do evento consideram ainda que Portugal no geral tem “uma população muito conservadora”.
Em Coimbra a praxe académica introduz valores machistas, racistas e de misoginia, considera Diogo Rivers. Esta situação condiciona a liberdade de expressão da comunidade académica que não se enquadra nos padrões sociais. No entanto Cláudia Teles reconhece que o trabalho de esclarecimento tem de começar antes, nas escolas, com a educação sexual ampla e interseccional. “Pôr o estudante que praxa a pensar sobre estas questões, e o porquê de os cânticos serem dessa forma” é importante para a mesma.
Quanto à violência contra a comunidade LGBT são vários os casos que acontecem, declara o porta-voz da PATH. “Acontecem muitos, mas não passam do foro da noite e não chegam às autoridades”, acrescenta. Na opinião de Joana Brilhante, a linguagem usada como forma de ataque continua a existir contra pessoas ‘queer’ o que lhe “dói muito”. Segundo a ativista os estudos LGBT em Portugal tiveram um grande crescimento, nos últimos dez anos. Ainda assim conseguem-se encontrar muito dados com relação a Lisboa, ao Porto, alguma informação sobre Coimbra, mas as cidades mais pequenas “ficam sempre à beira da informação”, finaliza.
Hoje foi dia de abraços na Baixa da cidade de Coimbra, a noite completa-se no Aqui Base Tango com uma Festa Fora do Armário. A 21 de maio acontece o Queerwave #3 no ODD. Um dia depois tem lugar a sessão de cinema “Dólares de Areia” no Teatro de Bolso do TEUC. A 23 de maio há um Quiz Queer no Aqui Base Tango. O Salgado Zenha projeta a 30 do mesmo mês a sessão de “Cinema Queer Português”.
Como desejou a ‘drag queen’, Evil Ynn “um dia as marchas não vão ser necessárias”, o que é sinal de que “já se conquistou tudo o que precisávamos”.
Fotografias por Gabriel Rezende
