Ciência & Tecnologia

Cartas da Natureza, pelas mãos dos cidadãos

Leonor Garrido

Iniciativa do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra permite acesso dos cidadãos à produção científica. Cerca de 5000 cartas por transcrever podem revelar “pequenas histórias” da biodiversidade do local. Por Leonor Garrido e Gabriel Rezende

Seis línguas, 1100 correspondentes e mais de 5000 cartas é o que abarca o projeto “Cartas da Natureza”, promovido pelo Jardim Botânico da Universidade de Coimbra (JBUC). Com a utilização da Zooniverse, plataforma aberta que permite montar projetos de ciência participativa e de ‘crowdsourcing’, os cidadãos podem ajudar a transcrever documentos com mais de um século de existência.

Para o diretor do JBUC, António Gouveia, o conteúdo das cartas é “muito rico no que toca a diversidade das plantas em Portugal e noutros países”. António Gouveia acrescenta que a maior parte destes é constituída por países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, devido às suas “relações históricas com Portugal”. Afirma ainda que se trata de países nos quais “cientistas portugueses e naturalistas faziam também colheitas”.

A análise do arquivo iniciou-se há vários anos, garante o diretor do JBUC, com a digitalização das imagens. No entanto, “a pesquisa só pode começar a ser feita no momento em que todas as cartas estiverem transcritas”, afirma, e a partir das informações retiradas “podem iniciar-se muitos outros projetos”.

 “Tem-se trabalhado questões históricas, da história da ciência, de biodiversidade e dados biológicos históricos”, explica o diretor do JBUC. Para este, as informações contidas nas cartas podem ajudar na contextualização das coleções e de obras do JBUC. “São pequenas histórias que se podem encontrar dentro deste arquivo incrível”, estima.

Segundo António Gouveia, a inserção do projeto na Zooniverse é importante “porque permite ter acesso a mais de um milhão de utilizadores registados”. Além disso, é um sítio onde os projetos passam por uma fase de revisão científica e de avaliação, “o que dá às pessoas a garantia de que aquele trabalho está corretamente feito”, acrescenta.

“É possível alavancar projetos com uma dimensão que os recursos humanos do JBUC antes não permitiam”, revela António Gouveia. Por tal motivo, “Cartas da Natureza” abre o processo de investigação às pessoas, que “passam a perceber a produção do conhecimento científico”. O diretor do JBUC crê que isto contribui para o processo de desmistificação da investigação científica.

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