Ciência & Tecnologia

Autismo é avaliado cada vez mais cedo

Maria Fernandes

Psicanalista defende a importância do diagnóstico precoce do risco de autismo. O acompanhamento deve passar por uma equipa multidisciplinar de especialistas. Por Paula Martins e Isabel Simões

Marie-Christine Laznik foi a especialista convidada da conferência “A Depressão e o Autismo do Bebé” que teve lugar durante a tarde de hoje, dia 5 de abril, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC). Como ensinar os pediatras a avaliar riscos de autismo é um trabalho “inovador a desenvolver”, afirma a psicanalista.

Dentro da patologia, “o espectrum é muito largo”, explica Marie-Christine Laznik. Pode ir de autistas com elevado nível intelectual que desenvolvem trabalhos de grande complexidade, como redes de internet e programas de computador, até pessoas que precisam de internamento numa instituição. Em comum apenas podem ter a dificuldade na interação com o outro.

Fotografia por Isabel Simões

Eduardo Sá, moderador da conferência e docente na FPCEUC, prefere que as famílias estejam atentas aos sinais de saúde mental das crianças e que os diagnósticos sejam da responsabilidade única dos especialistas. “Todas as crianças que no fundo são capazes de ser comunicativas, de se zangarem com alma, de serem curiosas e atentas são crianças saudáveis”, esclarece. E acrescenta que quando não manifestam estas características e se sentem “tristonhas” é importante ter alguém que ajude.

Para Marie-Christine Laznik apesar de no autismo existirem “fatores genéticos indubitáveis”, por ser uma doença neurológica evolutiva, torna-se possível “intervir para reverter o processo”. Durante a conferência a convidada apresentou um caso de estudo no qual obteve resultados satisfatórios. A criança, em análise desde os quatro meses, passou de um quadro depressivo para uma estabilidade emocional após mais de dois anos de consulta.

Nos primeiros anos de vida, o quadro clínico da mãe tem grande influência no bebé. A depressão de um deles pode ter efeito de “ping pong” no outro. Para Eduardo Sá, uma criança pode assustar-se por “diversas razões”, resulta da relação com outras ou de experiências cirúrgicas, exemplifica. Salienta a interdependência entre mãe e bebé uma vez que “nunca se deprimem um sem o outro”.

Ao contrário do que se vive em França, em Portugal e no Brasil médicos e psicólogos operam separados. A psicanalista, a trabalhar no Centro Alfred Binet, conta com 70 por cento de alunos que são médicos. Nas suas palavras, o tratamento inovador obriga “a formar colegas pediatras para avaliar o risco e também incluir psicomotricistas, capazes de tratar a parte motora desses bebés autistas”.

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