Ensino Superior

Antigos membros da AAC de 69 enaltecidos com condecorações

Mariana Rosa

Perante uma plateia composta, na sua maioria, por antigos estudantes da Universidade de Coimbra, a atual DG/AAC homenageou as vozes que outrora emergiram em protesto contra o regime e a censura. Alberto Martins aproveitou a ocasião para refletir sobre o futuro e para dirigir uma mensagem aos estudantes de agora. Por Vasco Borges e Mariana Rosa

“O medo não fez uma geração deixar de protestar”. Foi assim que o presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) iniciou o discurso de condecoração dos membros do órgão administrativo de 1969. Durante a gala que decorreu no dia 23 de abril, no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) a coragem e a irreverência dos estudantes foram celebradas.

Num momento emotivo e por entre abraços e aplausos foram condecorados com o título de associados honorários da AAC os membros que fizeram parte da Direção-Geral, da Assembleia Magna e do Conselho Fiscal da AAC durante a Crise Académica de 1969.

O evento começou com a apresentação de um vídeo sobre a história da Crise Académica de 69, seguido da atuação de vários grupos ligados à academia e a Coimbra. O Orfeon Académico de Coimbra presenteou a audiência com a adaptação das músicas “Os Índios da meia praia” e “Vejam bem”, de Zeca Afonso e a finalizar com a peça portuguesa “Coimbra”.

O Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC) aproveitou a ocasião para fazer uma ponte entre aqueles que foram os motivos que levaram à revolução e as questões que poderiam gerar um novo protesto. A interpretação começou com um discurso em crescendo que expunha alguns problemas da academia, como as propinas, a garraiada ou o desinteresse estudantil: “há 50 anos os estudantes lutaram pela democracia, agora só se luta pela Super Bock”. Vários atores misturados entre o público levantaram-se para protestar contra as reivindicações feitas pelo orador, o que culminou numa cena de agressões físicas e verbais enquanto a cortina caía.

O Grupo de Fados e Guitarradas da Secção de Fado da AAC apresentou também uma compilação de canções de abril. O encerramento esteve a cargo do Grupo de Fados Presença de Coimbra perante um público emocionado com as memórias de um tempo que já passou, mas que continua bem presente.

Alberto Martins, o presidente da DG/AAC da altura, mostrou-se satisfeito com as comemorações. “É bom ver que os estudantes e os seus dirigentes assumiram a dimensão que a Crise Académica teve, não só para Coimbra e para a academia, como para o país”. Aproveitou ainda para deixar uma mensagem aos jovens estudante sobre os desafios que têm pela frente porque “o futuro é daqueles que o sabem escrever e ousam sonhar”.

O presidente da DG/AAC, Daniel Azenha, considerou a cerimónia “simples, mas emocionante”. Para o dirigente é fundamental celebrar aqueles que em abril de 1969 tiveram a capacidade de enfrentar o regime e manifestarem-se com greves e movimentos culturais contra a censura e opressão. Daniel Azenha aproveitou para reforçar o caráter irreverente que tem acompanhado a história da academia. Apesar da mudança do tempo, “sempre que o país chamou por nós em prol de uma luta os estudantes corresponderam” e acredita que “o carácter reivindicativo dos estudantes se mantém”.

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