Uma gélida noite de sexta feira da qual resultaram duas referências cinematográficas: uma ideia de longa metragem e uma alusão ao filme “O Fiel Jardineiro”. Por fim, e para acalentar a malta, João Pimentel e Paulo Sérgio Santos apontaram uma das melhores aquisições da época.
Peçanha – 6
A história trágica de um guarda-redes cuja equipa vence sem precisar da sua ajuda. A melhor defesa desvalorizada por um fiscal-de-linha atento. A dicotomia do futebol como desporto de equipa e jogo solitário. “Sem Peçanha nem Piedade”, a longa metragem exibida no Calhabé esta noite.
Traquina – 5
A adaptação esperada. Charles Darwin escreveu sobre isso no seu menos conhecido livro, “A origem dos extremos: selecção futebolística”. Portugal, microclima propício à existência desse animal, designado por Extremus mutantis lateralis, tem sido caso de estudo de ‘experts’ mundiais. Traquina ainda é um híbrido, mas pode vir a ter potencial, caso abandone os ímpetos atacantes e as tendências de troca posicional – os laterais não fazem isso.
Mike – 6
Dois galos para um poleiro, algo que não se antevia no início da época. João Alves vai ter de decidir qual manda na capoeira da esquerda: se o vindo da capital, se o vindo da serra.
Yuri Matias – 7
A dado momento, temeu-se pelo pior. Alguém disse “Lá vai ele sair de campo outra vez”. Distraídos com o voo das andorinhas que teimam em já não migrar, pensámos que lá vinha expulsão de novo, mas não. Yuri estava no chão. Há que fazer a devida vénia ao brasileiro de 23 anos: esta época ainda só viu um amarelo em 12 jogos. No ano passado foram três e dois vermelhos directos em 17. Estamos a melhorar, rapaz.
Zé Castro – 6
Primeira parte. Passe habitual para o banano. Ouve-se na bancada “Este Zé Castro… O que é isto?!” A resposta é simples, instagram. I-N-S-T-A-G-R-A-M.
Ricardo Dias – 7
Só temos uma coisa a dizer: está encontrado o novo Marinho. Ou João Real. A Académica precisa de referências.

Guima – 5
Espaço, a última fronteira. Esta é a história de um jogador do Sporting, emprestado à Académica, com uma obsessão tremenda por espaço. Ou melhor, espaços, plural. Os vazios, os inabitados, os desertos, aqueles para os quais a humanidade não tem utilidade. Para Guima, contudo, têm uma beleza quase apologética, digna de qualquer passe.
Reko – 7
Aquilo que muitos não sabem é que a história do 28 da Académica foi a fonte de inspiração para Fernando Meirelles realizar “O Fiel Jardineiro”, com Ralph Fiennes no papel de um jogador de futebol obcecado com a presença de ervas daninhas no relvado, aproveitando as milhentas sarrafadas dadas para poder perscrutar cada centímetro quadrado de relva.
Romário (Baldé) – 6
Podia não ter feito mais nada, que já teria nota positiva por ter marcado aos 69’, em pleno spot erótico da Rádio Universidade de Coimbra. Tem é de esquecer que o mundo não é o raio de uma cabine telefónica, até porque estas já são escassas, mas sim algo maior, em que pode interagir com outras pessoas.
Júnior Sena – 6
“Seis? SEIS?!”, dirão vocês? Sim, seis. A nota e o número de golos em que Júnior já teve participação, directa ou indirecta. Hoje foi um golo e uma assistência. Contudo, a sorte protege os audazes e, neste caso, o audaz faz demasiadas asneiras, é individualista a um nível quase cego, quase faz sentir saudades de Ernest. A regularidade, diz Charles Darwin, impede que um extremo seja visto como um candidato a lateral e passe a ser olhado como uma potencial estrela.
Hugo Almeida – 7
21 minutos. Canto da esquerda e eis Hugo Almeida no seu sítio predilecto nestas bolas paradas: o vértice oposto da grande área. Bola ressalta na sua direcção e está aberto o activo, num remate daqueles que já vimos tanta vez na selecção. Se Djoussé tem música, não vejo porque Hugo não há-de ter.

Djoussé – 0
Tempo para a Mancha prestar a devida homenagem a Stevie Wonder e para aquela típica arrancada à Donald, em que todos imaginam um final à Puskas, ou apenas um golinho que seja, e acabam a vociferar os mais inimagináveis impropérios.
Marinho – 1
Não fez nada, mas também não precisa. Número 7 na camisola, número 1 nos nossos corações.
Ki – 0
Sentimos que o jogo deveria ter sido televisionado para a Coreia do Sul, à atenção de Paulo Bento. Não se compreende a negligência do senhor “Tranquilidade” para com o melhor jogador sul-coreano a actuar em Portugal.
João Alves – 7
As vitórias que começam a amontoar-se tornam-no, facilmente, numa das melhores aquisições da Académica esta época. Além do mais, exceptuando alguma rabugice que de quando em quanto aparece, é um senhor. Falou da Académica, mas também falou de Rui Vitória e da sua saída do Benfica, salientando a falta de ética e profissionalismo de Jorge Jesus.
Fotografias: Júlia Lopes e Isabel Pinto
