Cultura

Holofotes do cinema focam cultura, ‘marketing’ e financiamento artístico

Miguel Mesquita Montes

Dinheiro visto como fator importante, mas não essencial, para criação cinematográfica. Mais do que uma viagem através do cinema, oradores propõem que sejam os filmes a viajar. Por Maria Francisca Romão

Uma câmara, dois amigos e uma hora e meia são, segundo o publicitário Edson Athayde, os segredos de uma longa-metragem. A última MasterSession do 24º Festival Caminhos do Cinema Português seguiu os moldes da receita proposta. Um moderador, três interlocutores e quase duas horas foram o pano de fundo para discutir “O valor de uma marca do / no Cinema Português”, esta sexta-feira, na Casa das Caldeiras.

Cultura, ‘marketing’ e financiamento foram debatidos sob os holofotes do cinema. Para Luís Filipe Menezes, vice-reitor da Universidade de Coimbra (UC), “a cidade caiu num caldeirão artístico quando ainda era pequenina”. Justifica assim o papel da UC no apoio e coprodução de filmes. Luís Filipe Menezes acrescenta ainda que a ambição de ser uma entidade internacional tem de passar pela sétima arte. Lança, por isso, o desafio de os estudantes se lançarem “à aventura de fazer curtas e longas-metragens”.

“Há 70 anos, sempre que se falava em cultura, pegava-se numa calculadora”, recorda o vice-reitor. Ao olhar para o caso particular do cinema, o realizador Jorge Pelicano reconhece que “é necessário muito dinheiro para se fazer um filme”. Considera ainda que quem faz o filme é quem deve procurar financiamento. Entre possíveis estratégias, aponta a coprodução internacional, possível quando o palco de um filme se estende por vários países, e a criação de histórias universais. “São as mais vendáveis”, conclui.

Da esquerda para a direita: Edson Athayde, Sérgio Dias Branco, Luís Filipe Menezes e Jorge Pelicano. Fotografia por Miguel Mesquita Montes

“Se não se pode gravar a guerra, filma-se a trincheira”

Por não se abandonar a pessimismos, Jorge Pelicano adverte que “fazer cinema em Portugal não é impossível, apesar de ser necessário trabalhar muito”. Embora reconheça que o financiamento é importante, pondera paradigmas alternativos. “Se não se consegue filmar a carroça, filma-se a roda”, sugere, ao citar Alfred Hitchcock. Adianta mesmo que esta estratégia já foi adotada pela obra portuguesa “Soldado Milhões”, na qual, por não ser possível filmar a guerra, se filmou as trincheiras.

Jorge Pelicano revela ainda o enredo do próximo projeto: a história verídica de um náufrago que tentou atravessar o Atlântico numa canoa e esteve quase 40 dias à deriva. A intervenção de Edson Athayde também cruzou continentes, ao refletir sobre o cinema brasileiro. Segundo o publicitário, “a cultura deveria ser analisada através da lente do ‘marketing’”.

“Escândalos de corrupção à parte, a maior parte do cinema brasileiro é patrocinado pela empresa Petrobras”, informa o publicitário. Ao estabelecer um paralelismo com Portugal, lamenta a forma “envergonhada” como a cultura portuguesa aceita escassos patrocínios. Não descarta, no entanto, todo o potencial que, nas suas palavras, a nação lusa tem.

Na ligação entre a sétima arte e o mercado, um novo fator assume um protagonismo cada vez maior na equação: a comunicação estratégica, declara Edson Athayde. Tese que é reiterada por Jorge Pelicano, ao argumentar que “comunicar não chega, é preciso saber fazê-lo”.

Nesta viagem pelo cinema, Edson Athayde sugere que também os filmes viajem. “Torna-se importante criar uma arte que circule pelo mundo e capte dinheiro em diferentes países”, conclui. De 23 de novembro a 1 de dezembro, Coimbra foi o destino de inúmeras obras cinematográficas.

Com Miguel Mesquita Montes

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