Cultura

Emergentes 2018: telas, cordas e melodias captaram a audiência

Sofia Gonçalves

Dois artistas apresentam os seus projetos em espaços encerrados da Baixa de Coimbra. Organização considera que objetivos foram cumpridos. Por Luís Almeida

O dia começou no Terreiro da Erva, nº 45. À porta, apenas uma bandeira da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC) a indicar que algo se passava. Ao entrar, via-se naquele pequeno espaço cerca meia dúzia de pessoas sentadas no chão a ouvir Filipe Furtado, artista participante no Emergentes 2018. Mais tarde, foi a vez de Busted Kittens captar a atenção da plateia com uma dualidade de sentidos.

Filipe Furtado não esquece as origens

O ambiente calmo marcava o passo da música. O público que se encontrava naqueles poucos metros quadrados deixou-se levar pelo dedilhar das cordas e pela melodia composta por Filipe. A cantar sobre “‘family business’”, o artista açoriano apresentou um tema sobre o homem que “vivia no meio do mar”, o seu avô. Entre temas, comentou que este foi o concerto “mais intimista” que já deu.

A plateia cresceu aos poucos. Pessoas entravam curiosas para saber o que se passava. Ficavam, ouviam e tiravam fotografias. Ainda dentro das figuras familiares, chegou a vez de conhecer a avó de Filipe. “Teus olhos não mentem, Teresa”. O artista considera estas canções uma forma de “prestar homenagem” a duas pessoas que o “marcaram” e de quem tem muitas recordações de infância. A pensar nas suas origens, entoou “Nevoeiro é o meu estado natural”, onde se ouve que conta os dias para voltar a casa.

No público estava Sara Mendes, que revelou conhecer o artista pessoalmente. Contudo, “nunca o tinha ouvido cantar”. Confessou ainda que decidiu fazer uma pausa nas compras de Natal para assistir ao espetáculo. Os novos talentos e a descoberta de espaços que se encontram encerrados assumem uma componente cativante para a espectadora. “A proximidade permite apreender melhor a música e dá ao artista a possibilidade de ter um ‘feedback’ melhor”, acrescenta.

Filipe confirma esta maior facilidade em perceber a reação do público num espaço pequeno. Sublinha o ambiente relaxado como uma das vantagens deste tipo de atuações. À pergunta “para quando o disco?”, respondeu “2019” com segurança. Confessa que apesar de alguns obstáculos, espera poder lançar o seu trabalho em breve.

Uma viagem de comboio musicada

Do Terreiro da Erva para o Adro de Baixo, perto da Praça do Comércio, foi aqui que teve lugar o segundo concerto desta manhã, protagonizado por Busted Kittens. Com pouca luz, ao fundo da sala vê-se uma tela e, mesmo ao lado, um rapaz rodeado de vários instrumentos. Acompanhado de guitarra, baixo, harmónica e outros tantos, ouviu-se uma melodia enquanto passava uma curta metragem de Buster Keaton.

Na tela, via-se um homem a viajar na linha de comboio num pequeno vagão. Enquanto isso, uma mistura de sons enchia o espaço e marcava o ritmo, ora calmo, ora acelerado. As linhas férreas não acabavam e a plateia não sabia se devia focar-se no artista ou na película.

Já perto do final, juntou-se ainda outro músico à atuação para acompanhar com flauta transversal. No fim, a tela ficou escura e soaram os aplausos. Sérgio Santos, membro do público, confessou já conhecer o artista de outra banda. Quanto à atuação, afirma ter gostado e acha interessante não se perceber, por vezes, se toda a sequência está planeada ou se existe algum improviso. No geral, considera uma boa experiência. Refere também a confusão entre olhar para o artista ou para o filme, mas reforça a tendência de olhar para quem está a atuar.

Ricardo Jerónimo, membro da organização e da Blue House Coimbra, assegura que os objetivos do evento foram cumpridos. Explica que “dar visibilidade a espaços da Baixa de Coimbra, atrair público diferente e jovem e trazer diversidade e propostas musicais eram algumas dessas metas”. “A plateia gostou da descontração associada às atuações”, acrescenta. Confirma ainda que a APBC deu um “‘feedback’ positivo” pois o público presente não é o habitual.

Fotografias: Sofia Gonçalves

 

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