Ciência & Tecnologia

Coimbra acolhe “Experiência Antárctica”

André Crujo

Palestrantes falam de expedições ao continente mais a sul do planeta. Alterações climáticas são razão de estudo da área. Por Nino Cirenza e André Crujo

O Laboratório Chímico foi a sede de palestras acerca de expedições ao Polo Sul. As dez jornadas à Antártida de José Xavier acompanhadas das duas de André Breves dão azo a inúmeras histórias e experiências científicas. A influência do continente no clima e a sua biodiversidade são tópicos proeminentes nas conversas dos palestrantes. A falta de adesão aos assuntos é revelada por uma bancada quase vazia, que contrasta com a relevância do tema exposto na véspera do aniversário do tratado da Antártida. “Entre pinguins e icebergues, que ciência se faz na Antártida de tão especial” é o título autoexplicativo do evento que aconteceu esta tarde no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra.

Ir para a Antártida é uma sensação semelhante a viajar para outro mundo”, ilustra André Breves, investigador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no seguimento da explicação da preparação física associada à viagem. O cientista expõe as condições do treino pré-antártico “obrigatório a todos os que querem pisar o continente”, que implica uma preparação teórica e prática em que o expedicionário “tem que estar em plena saúde”.

Devido à extensa quantidade de tempo passado no navio de pesquisa este é encarado como uma casa por André Breves. Nesse âmbito é salientada a importância das relações interpessoais entre colegas de equipa. “Todos os expedicionários estreitam os relacionamentos e transformam-nos em amizade, num contexto de condições adversas”, elucida o investigador brasileiro. A colheita de amostras era partilhada pelas equipas, mesmo que estas não estivessem envolvidas no mesmo projeto de forma direta.

Após o tempo de viagem, a última dificuldade em atingir o continente prende-se com a falta de meios. A utilização de um navio quebra-gelo facilitaria a passagem, no entanto são dispendiosos. André Breves conta que a embarcação utilizada afundaria, caso embatesse num bloco de gelo “do tamanho de uma secretária”.

A maior parte dos estudos de André Breves foram realizados no navio, pelo que as suas idas a terra eram encaradas como um calmante. Estas eram aproveitadas para cooperar nas colheitas dos colegas. Por outro lado, o trabalho de José Xavier, expedicionário e professor da Universidade de Coimbra, envolve um contacto mais direto com a fauna. Há cerca de duas décadas que este estuda ciência polar, com o foco nas colónias de pinguins e suas migrações. “Os animais não têm medo de humanos, por vezes fazem companhia”, elabora o investigador acerca do comportamento das espécies. As experiências de José Xavier estão descritas no seu livro “Experiência Antárctica”.

O tratado da Antártida foi assinado em 1959 e visa a preservação e a investigação científica no continente. Portugal aderiu em 2010 e José Xavier revela a importância em “fazer parte de um clube de países que promove a cooperação científica e o conhecimento”. Esta participação visa “tentar discutir as questões que nos permitem ter um planeta melhor”, conclui.

Se o planeta aquecer é nessas regiões que vão ser observadas anomalias mais evidentes”, revela José Xavier. O investigador menciona que dez por cento do planeta vai ter implicações globais. O degelo da área pode levar as águas a ascenderem 50 metros. Para ilustrar o cientista dá um exemplo local: “A água chegaria da Baixa ao Polo I”.

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