Cultura

O bater do coração vão de escada acima

Isabel Pinto

Espírito guineense, reportado por artista italiana em espaço português. Histórias, memórias e intimidade em projeção. Por Isabel Pinto

“Terceiro Andar”, o projeto mais recente da realizadora italiana Luciana Fina, teve lugar no festival Linha de Fuga. Dia 9 de novembro, no Colégio das Artes, projetou-se, na última sala de exposição, um filme “sobre amor e educação sentimental”, partilha. Com uma “participação dialogante”, as protagonistas são as vizinhas do terceiro andar do prédio da autora e, com base numa relação próxima e íntima, o convite surge de forma natural e o projeto ganha vida.

Formada em literatura portuguesa e com uma tese acerca do cinema colonial português, a artista tem bases de palavra e movimento “que são duas noções muito presentes no cinema”. Apaixona-se por um Portugal com “uma forte vontade de ter voz e de cruzar linguagens”, explica. Em 1991, muda-se para o país onde viria a publicar o primeiro filme-documentário em 1998.

As suas referências cinematográficas residem numa zona distante no tempo, conta-nos Luciana Fina, e passam por grandes nomes do cinema italiano, como Luchino Visconti, Roberto Rossellini ou Vittorio De Sica e por fotógrafos como Robert Frank ou Agnès Varda. O amor pelo documentário floresce durante o seu trabalho na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa. Aí, colabora com o atual diretor da instituição, José Manuel Costa, na apresentação de toda a obra de Frederick Wiseman, documentarista.

A instalação com que visitou Coimbra é sobre uma mãe e uma filha que conversam no terceiro andar do prédio onde vive a realizadora. Prédio este que, “de repente, possibilita que a vida de África esteja no centro da cidade de Lisboa” e onde foram feitas, de forma integral, as filmagens. A criadora explica ainda que não escolheu migrantes porque também ela o é. Justifica assim que este filme “não é documental”, mãe e filha representam, com a artista, uma ideia. Acrescenta que não se interessou pela comunidade migrante, mas pelas vizinhas.

Este trabalho é, então, sobre o bater do coração que, através de histórias, memórias e primeiras cartas de amor, as vizinhas partilhavam com Luciana Fina vão de escada acima. Um prédio onde habita há 25 anos, em Lisboa, “um centro de cidade onde convivia com outras dimensões da existência, como a de uma mulher africana que vem para Portugal para casar e ter filhos portugueses, guineenses e muçulmanos” é a incubadora da ideia base.

Do seu prédio para uma capital inteira, Luciana Fina antecipa a vontade de desenvolver trabalhos sobre “a condição em que Lisboa está a viver”. Uma condição em que os habitantes da cidade dão lugar ao cada vez maior número de turistas.

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