Cogumelo associado a um aumento da arborização neuronal. Estudo cria expectativas no tratamento de Alzheimer. Por André Crujo
Cientistas do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra testaram os efeitos do cogumelo Coriolus versicolor no cérebro. O estudo proposto e financiado pela empresa Mycology visava descobrir as consequências do fungo no hipocampo, uma área cerebral associada à memória. Esta é a principal zona afetada pela doença de Alzheimer, pelo que um objetivo futuro da equipa é testar as possibilidades no combate à patologia.
“No giro dentado, área do hipocampo, há algumas células que produzem novos neurónios, chama-se a isto neurogénese”, afirma Ana Cristina Rego, co-investigadora e responsável pelo estudo. O propósito era saber se essas células podem ser promovidas pelo consumo do cogumelo, explica. Foi descoberto que não há formação de novas células, mas que estas estavam muito mais arborizadas. Isto significa que as estruturas apresentam mais dendrites, ou seja, terminações nervosas. Logo conseguem captar mais informação.
Os testes consistiram em alimentar ratinhos (murganhos) com o suplemento e verificar as diferenças apresentadas no cérebro de um deles. Não existem garantias de um benefício na memória dos animais devido à falta de testes na área. Estes resultados apenas permitem sugerir um efeito benéfico neste âmbito, cuida a investigadora. Os testes não foram realizados devido à idade precoce dos roedores.
Implicações a nível celular
A diferenciação das células é acompanhada por uma expressão de novas proteínas. É este fator que permite o uso de anticorpos que funcionam como detetores e marcadores das proteínas. Isto possibilita avaliar a diferenciação neuronal e verificar o estado das dendrites a nível de microscopia. Ana Cristina Rego realça que para complementar a análise gostariam de fazer testes comportamentais com os animais testados.
As experiências avaliam o nível de ansiedade dos seres vivos e a sua memória, de forma a verificar as implicações da alteração morfológica. Um deles chama-se “Morris Water Maze” e consiste na medição do tempo que um ratinho leva a descobrir uma plataforma escondida, dentro de água. “Isto permite avaliar a memória de curta duração, associada ao hipocampo”, assegura a responsável pelo estudo.
“Há diferentes modelos de animais com doenças neurodegenerativas”, explica a investigadora e acrescenta que “apesar de não ser o mesmo que num homem, é possível transpor alguns resultados”. Tanto o suplemento quanto o Alzheimer afetam o hipocampo, daí o foco da investigação nesta doença. A hipótese de o cogumelo ter benefícios no tratamento precoce da patologia é um dos interesses da investigadora.
Ana Cristina Rego menciona que a sua equipa gostaria de explorar o papel que o intestino humano pode ter. Microbioma é o termo que descreve as bactérias presentes no órgão e a alimentação pode condicioná-las.
