Cultura

De Sydney até Coimbra chega Gwyn Ashton

Hugo Guímaro

A fusão do ‘blues’ com outros estilos musicais é predominante na música do artista. O foco em fazer algo diferente é transportado para as suas atuações. O perfecionismo do ‘bluesplayer’ não superou a boa disposição no ‘sound check’. No meio do barulho provocado pelo staff, a conversa revela as influências do australiano na sua composição enquanto artista de ‘blues’. As inspirações acompanharam-no ontem até ao palco do TAGV. Por André Crujo

Quando foi a última vez que visitou Portugal?

Foi há dois ou três anos, na ilha da Madeira.

Antes de entrar em detalhes pessoais, reparei que conhece o seu ofício muito bem, todos os pormenores técnicos.

Passo muito tempo a experimentar com amplificadores diferentes, colunas, válvulas, pedais, guitarras, cordas, captadores… Portanto tudo me é muito alheio neste momento, porque não estou a usar nada que seja meu, excepto os pedais. Pedi as guitarras emprestadas, pedi os amplificadores emprestados e é muito difícil personalizar tudo para que soe bem. Acho que soa bem, no entanto. É demasiado caro voar com todas as minhas guitarras e amplificadores.

Fiquei um pouco triste por não ver a sua ‘National Steel’ dos anos 30.

Sim, tenho cinco dessas! São só guitarras ressonadoras velhas. Conduzo com elas pela Europa, vim ontem da República Checa e não as pude trazer. Não confio no voo, não confio no pessoal das bagagens. E tenho uma guitarra ressonadora emprestada, portanto vai soar bem. Não é a ‘National’, mas vai servir.

No seu site, vi o termo “progressivo de um homem”. Como é que explica essa descrição?

Sou um artista a solo e estou a tocar ‘blues’, mas tento ser alternativo e cruzar alguns géneros. Gosto do ‘rock’ progressivo dos anos 60 tardios, na transição para a década seguinte era tudo muito experimental. Na Austrália há muito ‘blues’ progressivo. Antes de a fusão do ‘jazz’ descolar, a cena do ‘rock’ estava a progredir nesse tipo de direcção. E, neste contexto, percebi a história do ‘blues’, que amo, mas consciente de que nunca serei um ‘bluesman’ negro. Tenho muito respeito pelo estilo, contudo nunca tive o tipo de vida desses homens. Como Lightnin’ Hopkins e Son House, que tiveram vidas muito difíceis. Foi daí que a música veio. Eu sou um tipo branco da Austrália que cresceu na praia a nadar e a divertir-se, portanto nunca tive esse tipo de vida. Mas a música atraiu-me imenso, então em vez de ser outro tipo branco a tocar a música de um homem negro quero ser influenciado por eles e tentar levá-la a outro lado.

Dando-lhe um toque pessoal?

Quando ouves BB King, Buddy Guy, Rory Gallagher ou Johnny Winter sabes que são eles antes de começarem a cantar. Muito do ‘electric blues’, ‘molten blues’, soa-me todo igual. E eu admiro pessoas como o Jack White, os The Black Keys e os North Mississipi Allstars – tipos que são novos e estão a trazer o estilo para o século XXI. Eu sou mais velho, mas acho que ainda tenho algo diferente a mostrar.

Acho muito empolgante não ter uma banda com a qual tocar. Já tive e, na altura, as pessoas mais novas diziam, “excelente banda, o meu pai ia gostar disto”, e agora dizem “isto é um pouco parecido a Jack White e The Black Keys”. Estou a comunicar melhor com as pessoas mais jovens. Quando estás lá fora sozinho, a tua reputação está em jogo.

Como é que a sua música se relaciona com o seu passado? Como mostra a sua personalidade?

Mostra que sou um ser humano muito confuso. Cresci a ouvir o rádio em 1972. ‘Country’, ‘blues’, ‘rock and roll’ e ‘pop’, o meu todo é uma combinação destes estilos. Para tocar ‘blues’ ou qualquer outro tipo de música é preciso conhecer os fundamentais. Tens de conhecer as regras antes de as poderes quebrar.

O que espera do público de Coimbra?

Se não me atirarem com coisas, fico feliz. Se comprarem discos, ainda fico mais feliz. Ao olhar para a sala, percebo que me espera um público sentado e eu prefiro quando as pessoas estão levantadas, a saltar por aí e a divertirem-se. É um pouco estranho quando as pessoas estão sentadas. Eu quero que eles saltem e partam isto.

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