Cultura

“‘Blues’, o estilo que nos rouba ao nosso quotidiano”, devolvido a Coimbra

Hugo Guímaro

Shanna Waterstown traz o ‘blues’ na sua forma mais pura dada pela sua performance. O reflexo do seu passado cultural esteve presente ontem, no TAGV. O estilo de música enraizado na artista data de há muitos anos. A pequena menina que cantava ‘gospel’ aos domingos agora move o mundo com a sua voz. Manter o ‘blues’ vivo é a sua missão e a plataforma a cidade dos estudantes. Por André Crujo

Qual o seu objetivo enquanto ‘blueswoman’?

O meu nome é Shanna Waterstown e costumo definir-me como uma cantora contemporânea de ‘blues’. Como uma ‘blueswoman’ estou muito honrada pela oportunidade de estar em Coimbra e de regressar a Portugal. É uma cidade bonita, com um excelente clima e pessoas extremamente simpáticas e, por isso, sinto-me muito feliz em estar aqui. Só posso esperar um bom público para o concerto de logo à noite. O meu maior objetivo é que a audiência dos espetáculos de ‘blues’ cresça, que o público comece a interessar-se e a querer conhecer melhor este estilo musical. Tenho uma voz própria dentro deste género. Claro que valorizo muito as minhas referências musicais, mas escrevo as minhas próprias letras, componho e alimento uma visão feminina sobre os ‘blues’. É muito importante poder partilhar esta paixão com o maior número de pessoas possível. Temos que fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para manter o ‘blues’ vivo, porque é um estilo que nos rouba ao nosso quotidiano, tem essa magia.

Para uma artista vinda da Flórida, quais as primeiras diferenças que notou ao chegar a Portugal?

Já estive em muitos lugares diferentes na Europa, mas só recentemente. É um mundo totalmente novo para uma pequena menina, crescida no sul dos Estados Unidos da América, num ambiente ainda muito rural, que cantava ‘gospel’ na igreja ao domingo. Desde aí, já estive em Nova Iorque e Paris. Também já passei por Espanha e pela Alemanha. Como adorei a minha experiência anterior em Portugal, é um privilégio poder conhecer ainda melhor este país. E espero que esta relação amorosa com ele continue.

Diria que a sua música define o seu caráter ou que o seu caráter define a sua música?

Acho que é mais o meu caráter que define a minha música, porque estou sempre muito envolvida naquilo que produzo. Tenho uma mensagem a passar a quem me ouve. O ‘blues’ conta uma história sobre uma pessoa – é extremamente humano. Esta preocupação com ter sempre algo a dizer é ancestral. Vem da minha cultura, das minhas raízes e do facto de ser negra. Estes traços de personalidade influenciam inevitavelmente as minhas canções. Há uma razão por trás de tudo aquilo que faço em palco.

Quando uma pessoa ouve a sua música pela primeira vez, quais considera serem os tópicos que mais facilmente retém?

Talvez uma mistura de todos os episódios que moldaram a minha vida. Ainda sou nova e há muitas coisas que ainda tenho que viver, mas também já passei por muito. Há um toque de ‘gospel’, há um toque de ‘soul’, há um toque de ‘funk’, há um toque de ‘jazz’… São as minhas raízes, é algo acolhedor. Transporta-me de volta aos seixos, ao Mississípi, à minha infância. As minhas canções são compostas por tudo aquilo que me tocou, bom ou mau.

Mencionou o seu contexto cultural e a sua personalidade como os principais traços que caracterizam as suas composições. Como é que tudo isto se equilibra?

A minha família empurrou-me um pouco para este mundo. Ao início, nem eu sabia bem aquilo que estava a fazer. Tinha talvez 5 anos quando corria pela minha casa a cantarolar anúncios publicitários. Mais tarde, entrei no mundo do ‘gospel’ e comecei a cantar na igreja todos os domingos. Nasceu aí o interesse por inúmeros estilos. Não estava certa quanto ao que realmente queria, então deixei que esta arte simplesmente me guiasse. Também quis ser jornalista, porque adoro escrever, mas, uma vez mais, a música sobrepôs-se. É maior do que somos: toma-nos como uma onda e resta simplesmente deixar-nos ir. Gosto de escrever, de falar e de comunicar – todos estes elementos se harmonizam na música. Quanto à minha voz, nunca tive aulas ou professores. Foi tudo natural.

Com Maria Francisca Romão

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