Cultura

A Estudantina quis, os convidados atuaram e a Desertuna venceu

André Crujo

Grupo anfitrião encheu palco para encerrar noite de espetáculo. Animação das atuações manteve público cativado. Por Luís Almeida

A EUC Notícias comunicou no início da noite uma invasão à academia almadense. Estes tunos viajaram até ao Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) em Coimbra desde a capital para abrir o palco do 28º Festuna – Festival Internacional de Tunas de Coimbra e arrebatar o público. Com um início calmo, rápido aceleraram o passo com a prestação dos seus bandeiras que animaram a audiência.

O grupo lisboeta prosseguiu a sua atuação com uma analogia entre o mar e a vida ao explicar que ambos são por vezes calmos e noutras tempestuosos. Mas não ficaram por aí e compararam ainda com o sentimento de atuar perante uma multidão. “Há sempre medo do palco, mas depois há um bom público”, confessa.

“Coimbra apaixona-nos”, admitem os membros da anTUNiA – Tuna de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Contudo, não deixaram as raízes de lado e interpretaram “O Tejo corre no Tejo”, um tema de Carminho. Mas, antes disto, houve ainda tempo para um instrumental chamado “Quatro Estações”, no qual se destacou o solo do bandolim. Por fim, a bandeira regressou e, quando terminou o seu espetáculo, deixou o público a desejar mais.

Do Litoral passa-se para a Beira Alta. O Festuna trouxe a Tunadão 1998 – Tuna do Instituto Politécnico de Viseu (IPV) para animar os presentes. Do início ao fim, os tunos de Viseu, que têm “na alma o beirão”, não deram tempo de descanso a quem estava na plateia. Estes ouviram “cantar uma canção” e não resistiram a acompanhar e incentivar com aplausos quem estava a atuar.

Entre muito ritmo e interação com o público, a Tunadão 1998 deu ainda um toque romântico à sua prestação com a oferta de rosas para quem os estava a ver. A partir daqui a atuação dos viseenses teve um compasso cada vez mais rápido. Durante o seu instrumental, o olhar da plateia fixou-se nos dois tunos que simularam uma luta de espadas com as bandeiras e marcaram o ritmo.

No final, houve ainda tempo para acrobacias com direito a faixas de agradecimento a Coimbra. Para se despedirem, os estudantes do IPV entoaram o seu “Grito Académico” repleto de trocadilhos e canções populares portuguesas, entre as quais constava “Coração não tem idade” de Toy.

Metade das tunas a concurso estavam apresentadas pelo que chegou a hora do Grupo de Cordas da Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra tomar a ribalta. Este grupo trouxe mais um pouco do que tinha mostrado na sua atuação no Sarau Festuna. O público mostrou-se recetivo à prestação e acompanhou a batida da música com os seus aplausos.

Na viagem pelas tunas convidadas eis que chega a Desertuna – Tuna Académica da universidade da Beira Interior. Este grupo começou por apresentar a cidade que o viu nascer. Assim, presentearam o público com a canção “Covilhã”. Como forma de se distinguir das restantes, esta tuna apresentou bailarinos como um dos seus pontos de destaque. Os quatro tunos que dançaram ao som das guitarradas deixaram a audiência entusiasmada com o toque diferente da sua ‘performance’.

Ao longo de uma atuação que aumentou de intensidade com o passar do tempo, a Desertuna passou para o seu último tema. “O Infante”, poema de Fernando Pessoa e interpretado pelos estudantes, deixou quem estava a assistir maravilhado.

De mais a Norte, a Tuna Universitária do Porto apresentou-se menos numerosa do que as restantes e com a canção “As Carvoeiras”. Os tunos da invicta seguiram com dois temas que admitem ser um pouco paradoxais. Por um lado, um fala de amor à vida e o outro de um amor não correspondido. De seguida, apresentaram a sua versão da música de José Afonso, “Tenho barcos, tenho remos”. A melodia conquistou a assistência, que depois se deixou levar por um tema mais leve e animador: “Guantanamera”.

Chegou a vez do anfitrião

“Amor, esta é para ti”, afirmou o solista. Na plateia, ouviu-se um antigo estudantino dizer “estou aqui em cima”! Esta pequena interação descreve o ambiente vivido ao longo da prestação da Estudantina Universitária de Coimbra, que tomou o palco com temas e pessoas do passado e ainda apresentou um inédito. Não “do outro lado do rio”, mas sim deste, ouviu-se o grupo anfitrião enquanto apresentou uma música estreante: “Madrugada”.

A “Estudantina que passa” viajou 20 anos no tempo até 1998 e trouxe de volta o título do álbum lançado nesse mesmo ano: “Portugal total”. Debaixo das luzes verdes e vermelhas, os tunos viram-se acompanhados pelo público. Contudo, a entoação da plateia acentuou-se mais quando, já com os “velhos” em palco, soaram os clássicos do grupo académico. Da “Rapariga” ao “Traçadinho”, o TAGV encheu-se de vozes que mostraram conhecer bem a letra das músicas.

Acabada a atuação da tuna da casa, chegou a hora de conhecer os vencedores desta edição do Festuna. A Desertuna mostrou-se a grande vencedora da noite. Para além de assegurar o primeiro lugar no festival, foi também o grupo a arrecadar mais prémios no total. Foram eles os prémios Tuna Simpatia, Melhor Desempenho Vocal e Melhor Desempenho Instrumental.

O segundo lugar do pódio destinou-se à Tunadão 1998, que também ganhou o Melhor Pandeireta. A anTUNiA levou dois prémios para casa: Melhor Serenata e Melhor Estandarte. Por último, a TUP conquistou apenas o Melhor Solista.

Já depois de terminado o festival, Maria Patrícia, antiga estudante de Enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, contou que não foi a sua primeira vez no Festuna e acredita que o festival melhorou em relação ao ano anterior. Por sua vez, Elodie Esteves considera que o espetáculo alcançou as expectativas e destacou a animação do evento. Maria Patrícia revelou ainda que a Desertuna é o seu grupo de eleição. “É para continuar e aumentar. Para a próxima devia ser no Convento São Francisco para ter mais lugares”, concluiu em tom de brincadeira.

Fotografias: André Crujo

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