Cidade

Nem só de Aeroporto vive a Semana Europeia da Mobilidade em Coimbra

Completar a ciclovia, soluções “provocatórias” para os declives da cidade e reafirmação de que até ao final de 2021 vai existir ‘metrobus’ foram temáticas abordadas em conferência realizada nos Paços do Concelho da CMC. Durante a semana houve lugar para outras iniciativas. Por Isabel Simões

A Câmara Municipal de Coimbra (CMC) associa-se ao “Passeio da Memória” da Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer. Para celebrar o Dia Europeu Sem Carros, a CMC participa na corrida e caminhada do próximo sábado, dia 22, desde a Praça da República até ao Convento de Santa-Clara-a-Velha, a partir das 10 horas. A Semana Europeia da Mobilidade (SEM) decorre desde domingo, dia 16, e termina amanhã, sábado, dia 22, Dia Europeu Sem Carros. Ao longo da semana foram várias as iniciativas promovidas pela Câmara de Coimbra.

A conferência que falou de acessibilidades e da descarbonização em curso nos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC), promovida pela CMC nos Paços do Concelho, marcou o dia de ontem (20) na cidade. A divulgação de um dos estudos sobre o Aeroporto Internacional de Coimbra, encomendado pelo município, a presença de um representante das Infraestruturas de Portugal (IP) para falar do Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM) e a conferência de José Manuel Viegas, professor aposentado do Instituto Superior Técnico (IST), despertaram curiosidade.

Manuel Queiró, Eduardo Pires e Jorge Alves

Estudo põe em causa localização do aeroporto

Em 2017, em campanha eleitoral, o presidente da CMC, Manuel Machado, prometeu transformar o Aeródromo Municipal Bissaya Barreto numa estrutura aeroportuária destinada a voos comerciais ‘low cost’. Manuel Queiró, especialista em planeamento a quem a CMC encomendou o estudo, considera que a partir do nó de Soure na Autoestrada do Norte (A1) se consegue um espaço mais adequado para a infraestrutura que começaria como “aeródromo de classe III” e uma “pista de 2000 metros”.

O aeroporto para voos comerciais ‘low cost’ deve ser localizado no “melhor” sítio que esteja “disponível, à distância de uma isócrona de cerca de 100km por uma hora de distância” das pessoas da região, contrapôs Manuel Machado aos jornalistas, à margem da conferência.

Coimbra, Fátima, Figueira da Foz e Mira foram apontados pelo autarca como exemplos de pontos de “atratividade” para a infraestrutura aeroportuária, quer para os que fazem turismo, quer para a “parte empresarial que se desenvolve nestas localidades”, disse. A primeira prioridade para a localização continua a ser o Aeródromo Municipal Bissaya Barreto, reafirmou Manuel Machado. Salvaguardou não colocar de parte outra localização, no caso de o custo de remoção de terras para ampliação da pista for “excessivo”.

Segundo o presidente da CMC “há duas equipas a trabalhar” no assunto do aeroporto, uma de planeamento e ordenamento do território coordenada por Manuel Queiró, e outra de engenharia, constituída por uma equipa da Universidade de Coimbra (UC). O autarca afirmou preferir esperar pela conclusão dos estudos para que seja tomada “uma decisão política” e evitar a “especulação imobiliária”. Nas próximas duas semanas Manuel Machado conta ter na sua posse os documentos para depois serem apresentados ao executivo e à Assembleia Municipal.

Cronograma do Metrobus apresentado por Eduardo Pires

‘Metrobus’, uma possível solução para a mobilidade

Sobre o Sistema de Mobilidade do Mondego, o representante das Infraestruturas de Portugal, Eduardo Pires, garantiu que em 2021 o troço que vai ligar Serpins ao Alto de S. João em Coimbra será colocado ao serviço no primeiro trimestre de 2021. Informou também que as ligações do Alto de São João a Coimbra-B com uma bifurcação junto da Loja do Cidadão para o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra vão ter utilização no terceiro trimestre do mesmo ano.

A solução apresentada mereceu a crítica de Ana Bastos, vereadora do executivo da CMC pelo movimento Somos Coimbra, por a solução não incluir um túnel de passagem do ‘metrobus’ em Celas, uma vez que “é um dos pontos congestionados” de tráfego na cidade.

Em 2016, o Jornal A Cabra escrevia um artigo onde se assinalava uma iniciativa parlamentar do Partido Comunista Português, aprovada na Assembleia da República, que recomendava a solução ferroviária. Em fevereiro de 2017, o Governo de António Costa anunciava uma solução com autocarros elétricos «sistema Metrobus»,  em vez de transporte sobre carris. O Laboratório Nacional de Engenharia Civil criou para a Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional uma apresentação em que fazia a análise custo-benefício da solução, que pode ser consultada aqui.

Projeto da Ciclovia de Coimbra

A arquiteta paisagista da CMC, Joana Sobral, lembrou que a empreitada do Projeto da Ciclovia de Coimbra tem em concurso público, neste momento, a construção de novos troços. Se tudo correr bem, “daqui a ano e meio dois anos” vai ser possível viajar de bicicleta “desde Coimbra-B até à Portela”, confirma.

A obra financiada por fundos europeus tem a preocupação de estabelecer percursos “seguros”, próprios para serem cicláveis, em que o utilizador não necessite, de forma sistemática, de concorrer com o automóvel. Fica a faltar a ligação a São Martinho do Bispo à Escola Superior Agrária de Coimbra e o percurso pela estrada do campo que liga a Montemor-o-Velho e depois à Figueira da Foz.

A mobilidade nas cidades do futuro passa pelas acessibilidades

“É preciso olhar para a mobilidade com um olhar novo, fresco”, afirmou José Manuel Viegas. Hoje em dia, nas gerações com menos de 25 anos, a penetração de ‘smartphone’ já ultrapassou os 80 por cento, ou seja, a “conectividade digital é uma realidade”, lembrou. As viagens a pedido e partilhadas em automóveis, as primeiras tentativas no terreno de veículos de condução autónoma e o avanço dos veículos de duas rodas elétricos estão a provocar alterações em países como os Estados Unidos da América e a Alemanha, informou o professor do IST.

“Vai ser muito difícil prever o que vai acontecer com a mobilidade urbana”, disse. Nos últimos seis meses, as trotinetes elétricas ganharam terreno em cidades dos Estados Unidos mas também em Paris e há negociações na Câmara de Lisboa, revelou. A alocação do “espaço urbano vai ser a grande batalha dos próximos anos”, previu José Manuel Viegas.

Na conferência, os SMTUC apresentaram a aplicação COIMBRA.MOVE.ME, que permite definir percursos e saber em que local está o autocarro que se pretende apanhar. O Instituto Pedro Nunes da UC esteve representado por empresas pertencentes à área dos transportes.

Fotografias: Isabel Simões

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